domingo, 16 de novembro de 2008

Desabafo

Diante das incoerências já há muito vistas, da falta de tato no tratar, da intolerância, da gana pelo crescimento numérico (adesões), de teologias absurdas, de culto às tendências norte-americanas, de "endeusamento" no que deveria ser forma e não causa e, finalmente, da incapacidade de se perceber e de assumir erros, bem como da nossa incongruência com a dita igreja (a institucional, que carrega as características descritas aqui), eu e minha esposa nos permitimos sair da mesma.

Não apenas "deixar de ir". Não foi isso. Sair, nesse contexto, significa "não concordamos com isto frente ao evangelho de JESUS e ao que o mesmo tem falado conosco", de maneira que evitamos envolvimento em certas rotinas ministeriais por não desejarmos mais tomar parte do que acreditamos que, numa primeira impressão, pode até ser bom; mas numa análise mais profunda, desperta sentimentos (soberba, inchamento de ego, fortalecimento do poder dominativo, etc...) que se manifestarão de maneira extremamente negativa num futuro próximo.

Não estamos aqui também renegando nosso passado, essencialmente batista. Quando resolvi me batizar na Igreja Batista, lembro que minha mãe não aprovou a idéia. Entendeu como uma rejeição ao batismo católico que ela e meu pai haviam me dado. Quero deixar bem claro, de hoje em diante, para tudo e para todos, para o inferno satânico e ao "inferno" terrestre movido por corações duros e com pouca (ou nenhuma) capacidade de amar, que somos fruto de um processo violento e arrebatador, no qual a igreja teve um papel fundamental. Fomos ricamente nutridos por duas igrejas em nossa terra natal, e somos conseqüencia de eventos cuja causa foi manifesta nelas, quase que em sua totalidade.

Isso me faz lembrar que sempre há esperança ! E a minha, no que diz respeito à minha vontade é imortal. Eu não mato minha esperança, os outros é que me declaram, com seus atos: "sua esperança é vã !". Sim, porquê uma das maiores verdades que experimentamos no mundo cristão (afinal sempre tivemos vergonha do nome "evangélico") é que o evangelho se demonstra nas pessoas pelo caráter, e quase nunca pelo que se fala.

Aliás, analisando o que fala, percebo que até perdemos tempo, pois seria muito mais proveitoso sairmos dos templos. Como seriam ricos os teatros se metade do povo evangélico estivesse seguindo carreira naquilo que é talento manifesto: interpretação.

A instituição chamada igreja se tornou algo maior do que deveria ser (no nosso sincero entendimento). Isso não tem a ver com tamanho, pois vimos de perto uma igreja de muitos membros não sofrer desse mal, mas sim com a manifestação praticamente exclusiva do Reino de Deus na Terra. A evangélica, principalmente; essa nunca foi tão católica romana quanto agora.

Se as "coisas de Deus" hoje são manifestas como ministérios de igreja, que fique declarado aqui que realmente não queremos mais nos comprometer com isso.

Entendo também que Deus me deu um grande e precioso ministério: minha esposa. Esse vem como prioridade sobre todos os outros. Não viver esse ministério em minha casa, ou ter descaso com ele, querendo que ele seja algo que adeque constantemente às minhas necessidades, principalmente as ministeriais da igreja institucional, é fruto de algo que não vem de Deus, pois família é projeto Dele.

Não vou explicitar se é demoníaco o descumprimento total ou parcial dessa atribuição ministerial. Qualquer um tem o poder de se tornar o próprio diabo na vida de outra pessoa, sem nenhum esforço (principalmente sendo família). Culpar um ser caído daquilo que é meu pecado não é honesto. E no final das contas, eu também mandei Jesus à cruz.

Não estou, em hipótese alguma, gritando aos ventos que encontrei a verdade absoluta. Minha verdade é Cristo, meu salvador. Se houver algum engano na caminhada, assumo-o de peito aberto. Mas o entendimento pelas escrituras e o peso da consciência (que tenta se revestir de verdade) até agora não me acusa em nada.

Estamos optando pela simplicidade. De maneira nenhuma estamos declarando como o melhor caminho para todos. É o melhor caminho para nós. Não queremos nos declarar comos os "verdadeiros filhos de Deus" e nem chamar os que pensam diferente de "filhos do diabo".

Queremos apenas viver o evangelho. Não queremos só pregar, queremos ele em nós. Queremos ter vida de evangelho, compartilhando vida com qualquer um, não só os da instituição eclesiástica, que tantas vezes se fecha em torno de si mesma querendo manifestar algo de Deus, quando Deus o faz apenas quando quer e como quer.

Obviamente, desejamos também que fique bem claro que nossa saída não é fruto de uma "satanização" de nossa parte, de uma adoção do capeta para conosco, de negação ou mesmo de uma des-graça que se abate sobre nossas vidas. Aliás, é exatamente o contrário.

Honestamente, não estamos preocupados com o que estão pensando de nós. Quem nos conhece bem, é porquê andou bem de pertinho conosco por anos. É porquê amou, brigou, orou, chorou e sofreu conosco, e esses confiam no nosso bom senso e respeito ao evangelho. Quem emite opinião e não fez o descrito antes, não conhece, e julga.

Nisso afirmo que não vamos fazer "ping-pong" de idéias com ninguém que não nos conhece bem. Quem quiser, que conheça. Quem não quiser, que julgue e viva com as conseqüências disso.

Afirmo também que não temos interesse algum em teologias. Não me interesso naquilo que tenta definir Deus, dando suas medidas e comprimentos, de maneira que nem o próprio Jesus tentou dar.

Particularmente, acredito que ela hoje serve muito mais para se defender a estrutura, a instituição, visto que dela saem renda e empregos para muita gente que, sem isso, não teria mais o que fazer da vida.

Odeio, com toda a força que é possível, o pensamento pobre e estúpido, mas bem peculiar aos evangélicos, de que as maiorias sempre estão certas e as minorias erradas. Entendo que se muita gente resolvesse sair da igreja e começassem reuniões caseiras, talvez fôssemos vistos como corretos. Esse é o padrão de moral roto de nossa sociedade, que foge ao bom senso e ao criticismo, analisando apenas as tendências.

Entendemos que Jesus não era consultor de moda, e que nunca quis analisar ou fazer parte de tendência nenhuma.

Obviamente que nosso maior inconformismo, caso você tenha entendido o que escrevi até aqui, é com a religião. A igreja em si é mais uma vítima desse sequestro espiritual, algumas vezes propositalmente, outras ingenuamente.

Não acreditamos que a religião possa aproximar alguém de Deus, pois entendemos que ela se desvia do que é natural e cria mecanismos tão complexos que se torna pesada e, muitas vezes, até insuportável. Sempre me pergunto: "onde está isso na Bíblia ?" ou "Se a Bíblia não fala de tudo isso por quê fazemos assim ?".

De qualquer maneira, fugimos do cativeiro. E não damos a mínima para os sequestradores. Pelo menos não enquanto eles forem o que são.

Nosso interesse sempre foi e sempre será com as vítimas, sejam elas potenciais ou de fato.

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