quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Novo post, enfim

11 dias sem nenhum post novo... natal, novo e tudo o mais...

Tem sido dias bem corridos e problemas não tem faltado. Estou até pensando em abrir uma empresa de exportação deles.

Estou lendo o Confissões de um Pastor, do Caio Fábio. Encontrei um trecho bem interessante, onde ele vai à aldeia de uma tribo no amazonas e por lá fica uns dias. Transcrevo abaixo (é longo, mas bem interessante):

— Quando eu cheguei aqui, não sabia nada sobre os yscarianas. Vim apenas porque queria
aprender a língua deles e traduzir a Bíblia para o idioma. Quando chegamos, eles nos receberam
com tranqüilidade. Não sabíamos como nos comunicar, mas percebemos que eles eram
diferentes, nos traziam comida e riam muito para nós. Um dia, quando eu estava escovando os
dentes na beira do rio, um indiozinho veio e ficou bem ao meu lado, olhando-me enfiar aquela
escova na boca e mexer de um lado para o outro. Fiquei sem graça. Levantei, olhei para o rio e
decidi assobiar um hino. Aprontei o bico e soprei os sons de Santo, Santo, Santo, Deus onipotente.
De repente, percebi que o rapazinho estava assobiando comigo. Parei e olhei para ele, mas ele
continuou a assobiar sozinho. O índio sabia o hino todo e assobiou-o com um riso maroto no
canto da boca, enquanto eu arregalava os olhos.
— Mas como? Quem já tinha pregado o evangelho pra eles? Onde é que eles aprenderam
Santo, Santo, Santo? — perguntei curiosíssimo.
— Há uma tribo chamada uai-uai. Eles são das matas venezuelanas. Lá nas florestas onde
viviam, chegaram uns missionários e falaram sobre o evangelho com eles. A tribo inteira se
tornou cristã e eles decidiram que seriam os porta-vozes de Deus na floresta. Eles estão
percorrendo as matas pregando para outros índios — informou-me Desmundo, enquanto eu
quase não acreditava na beleza daquilo que ouvia.
— E a conversão dos yscarianas, como aconteceu? — indaguei com profunda ansiedade.
— Os uai-uai chegaram aqui perto, abriram uma clareira, acamparam e mandaram uma
comitiva até aqui. “Mandem alguns homens porque temos boas novas para vocês”, eles
mandaram dizer. Então, os yscarianas mandaram uma comitiva. Liderando o grupo foi o
feiticeiro da tribo, o sacerdote, o pajé. O nome dele é Araca. Lembra do homem de cabelo cortado
redondo em forma de cuia? Aquele que eu apresentei a você em primeiro lugar? Ele é o Araca.
Eles foram até lá e se sentaram com os líderes dos uai-uai. Ouviram sobre a visita do Filho de
Deus ao mundo. Disseram não saber que KorinKumam tinha um filho. Mas os uai-uai disseram
que Jesus era o filho de KorinKumam. Ouviram várias histórias de milagres do evangelho, todas guardadas na memória dos uai-uai. Eles voltaram para casa e reuniram a tribo toda. Araca disse
que daquele dia em diante ele só faria orações a Jesus, o filho de KurinKumam. Muitos fizeram a
mesma coisa e a maioria da tribo se tornou cristã. Foi assim que tudo aconteceu — contou
Desmundo com um olhar puro, limpo, cheio de amor, o que fazia seus olhos crescerem enquanto
falava.
— Mas e você e sua esposa? Qual foi o papel que vocês tiveram nisso tudo? — perguntei,
querendo saber no que consistia a vida e a missão deles no lugar.
— Bem, eu não sou pastor e nem pregador. Sou antropólogo e lingüista. Mas antes de tudo,
eu sou cristão. Minha missão aqui foi aprender a língua deles, criar um alfabeto e ensiná-los a ler.
Fiquei quase sete anos fazendo isso. Enquanto esse trabalho era feito, eu traduzia trechos da
Bíblia para eles. Com a ajuda de Araca, traduzi o evangelho de Marcos, que é bem simples, o
evangelho de João, as cartas de São Paulo aos Romanos e a Timóteo, e as epístolas de São Pedro.
Eu dou o texto a eles e deixo que decidam que tipo de cristãos querem ser. Não estou tentando
impor nada — ele me disse com muita certeza de seus objetivos naquele particular.
— E que tipo de cristãos eles se tornaram? — indaguei com ansiedade e doido para ouvir
alguma coisa que reforçasse as minhas teses sobre o obsoletismo das formas de culto e prática da
Igreja atual, pois estava convicto de que muito do que a igreja pratica hoje não tem nada a ver com
a Bíblia. São apenas tradições, feitas sagradas. Só isso. — Mas sim, em que tipo de crentes eles se
tornaram? — insisti.
— Cristãos primitivos, quase como os do Novo Testamento. Só que são mais puros, pois
nunca foram judeus — disse brincando.
— Como assim? Na prática, como é isso? Por exemplo, como é que eles batizam, a quem
eles batizam e como é que eles dirigem a igreja? Eles têm pastor? Qual é a hierarquia que eles
têm, se é que têm alguma? E os líderes da tribo? São os mesmos da igreja? Há separação de
casais? E a vida sexual? Um homem pode ter mais de uma mulher? E os espíritos, eles ainda têm
algum vínculo com eles? — foram todas as questões que eu despejei sobre ele, excitado de tanta
curiosidade.
— Eles batizam dos dois modos: tanto por aspersão, jogando a água na cabeça, como fazem
os católicos, anglicanos e presbiterianos; como também batizam por imersão, mergulhando a
pessoa no rio Nhamundá. Depende do tempo. Quanto está frio, vai de um jeito, quando está
quente, vai do outro. Eles batizam os que se convertem. Mas às vezes, quando os pais pedem, eles
também batizam crianças. Eles também têm pastores; são oito. O Araca é o líder maior, mas eles
decidem tudo juntos. Quanto a casamento, não há separação aqui. Quando um homem não quer
mais sua mulher, ele não a deixa. Apenas não toca mais nela, mas cuida dela. Quem já tinha mais
de uma mulher quando se converteu, manteve todas. Os que estão se casando agora, depois que
se tornaram cristãos, estão sendo aconselhados a ter uma só. Mas quem quer, pode ter mais de
uma, só não pode é ser líder da igreja. Os pastores têm que ser maridos de uma só mulher, como
eles leram na carta de São Paulo. Mas não pode haver adultério. Se um homem quer ter outra
mulher, não deve nunca ser uma já casada. Tem que ser solteira, e a esposa dele tem que
consentir.
Eu fiquei perplexo com tudo aquilo. De fato, jamais pensara que na vida eu fosse ser
apresentado a um quadro tão fantasticamente original quanto aquele.
— Mas e você, Desmundo, você não tenta passar para eles coisas que você pratica e crê? —
perguntei, achando quase impossível que pudesse ser diferente.
— Não. Eu não digo nada, a menos que me perguntem. Mas quando eles me perguntam
algo, eu sempre respondo que aquilo é apenas a minha opinião — afirmou.
— Mas e se você vê na Bíblia um mandamento claro a respeito daquilo? O que você diz? Você
diz o que consta na Bíblia? — questionei com a decisão de quem estava acostumado a dizer como
as pessoas deviam viver.
— Não, eu não os mando fazer nada, mesmo quando tenho opiniões bem claras sobre o
assunto. Eu apenas mostro o que está escrito na Bíblia e digo para eles irem pensar e orar juntos.
Às vezes eles voltam com a mesma opinião que eu tenho. Outras vezes, não — concluiu com um
certo orgulho de seu método cientificamente tão “isento e democrático”.
— Mas Desmundo, por que é que você faz assim? Se você sabe a verdade, você tem que
passar para eles! — falei um pouco impaciente.
— Mas o que é a verdade? O que eu vejo como verdade, outro pode ver de modo diferente.
Uma coisa que eu aprendi nos estudos, mas muito mais no convívio com os índios, é como eu
estou completamente condicionado a ver a vida como inglês. Por mais que eu queira ser isento na
minha leitura da Bíblia, eu não consigo. Eu sempre leio a Bíblia com o olhar de minha família,
criação e cultura nacional e religiosa. Então, como eu vou saber se eu estou lendo de fato a Bíblia
ou apenas vendo coisas com meus olhos europeus? — falou, dando-me de graça uma fantástica
aula de antropologia missionária.

O livro também está disponível no site do próprio Caio.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Apenas 2 Denários !

Domingo à noite, após a reunião, fomos até o centro da cidade para ver uma apresentação natalina. Estava muito cheio gente e permaneci de longe tentando ouvir.

Passado algum tempo chegou uma pessoa que fazia um tempo eu não via. Uma cristã verdadeira, porém absorvida em pensamentos e concepções evangélicas, que não do Evangelho. Não a julgo de maneira nenhuma, pois faz o que muito fiz. Por aqui nesses dias é inevitável as perguntas: “ E vocês estão bem? Foram afetados pela enchente?”. Após saber que tudo estava bem, ela começou sua explanação de livramento: “Eu passei a noite repreendendo pra gente ficar imune, afinal Deus faz diferença entre seus justificados pelo sangue de Jesus. Mesmo que seja verdade que muitos crentes foram atingidos” E eu sem querer ser grosseiro só dizia: “pois é”. Tentei desconfortá-la: “Acho que quem Deus “imunizou” tem o dever de ajudar os afetados não é? Fiquei triste de ver igrejas mantendo suas programações normais, enquanto a água engolia muita gente. Sua igreja fez algo em favor das pessoas?” . “Não” ela me disse. “temos lá 3 cestas básicas mas Deus não nos mostrou o que fazer com elas”. Eu ouvi isso ao fundo de hinos cristãos em praça pública, executados por “mundanos” que fizeram uma campanha pra arrecadar brinquedos usados pra crianças na redondeza pra não passarem o natal em branco. Fui remetido a uns minutos antes, quando estávamos na reunião da estação lendo em Lucas 10, o bom Samaritano, onde conclui:

Um teólogo perguntou a Jesus: Mestre que devo fazer pra ser um salvo? Ao que Jesus respondeu: Como resumes tua teologia? “ Amar a Deus sobre tudo e de toda forma, e o próximo como a si mesmo” – respondeu o teólogo. E Jesus retornou: “bingo”, faz isso e serás salvo. Infelizmente, Jesus ouve sua última pergunta:“Quem é o meu próximo?”.

Então Jesus decide contar uma história:
Certa família foi pega de surpresa por uma tragédia. Uma chuva intensa, fez com que um barranco desmoronasse nos fundos de sua casa e trouxe lama até sua cozinha. Eles olharam e viram que muito mais podia vir abaixo. Quando desceram a rua pra pedir ajuda pra salvar os móveis, perceberam que estavam ilhados pela água que havia tomado a rua com mais de 1 metro de altura. Ficaram desesperados por uns 4 dias, mesmo tendo sido alojados num galpão de uma igreja católica pela defesa civil. Pouca coisa sobrou de seus poucos pertences e a casa condenada.

Diante da situação um pastor lamentava, pois as coisas podiam ser diferentes se esse povo se voltasse pra Deus. Desse modo as pessoas ficariam protegidas, assim como ele foi. Por isso não pode parar, ele tinha um culto pra prestar ao Deus que o socorreu. Era também dia de entregar sua oferta no altar.

Logo depois, passou um ministro gospel, que teve de fazer um contorno imenso por outro caminho pra chegar no templo. Quase chegou atrasado pra campanha de 72 horas de louvor sem interrupção. Felizmente chegou bem no horário de sua escala.

Pra salvação da família que havia perdido tudo, um próximo bem distante, quem sabe de Recife, São Paulo ou Porto Alegre ou mesmo do outro lado da cidade, falou com sua patroa:“ Pega umas roupas e aquele colchão do quarto de visitas. Pega também uns 2 denários lá na gaveta pra comprar uns mantimentos. Tem uma carreta que vai levar isso pra umas pessoas que precisam mais do que nós. Depois com o décimo terceiro a gente vê se consegue ajudar um pouco mais.

No final a pergunta de Jesus: Qual desses é o próximo?

Amar a Deus com força, coração, alma e entendimento é direcionar o serviço ao próximo, mesmo que seja com apenas 2 denários.

Denário = renda pelo trabalho de 1 dia. Na média salarial brasileira uns R$ 25,00.

Direto do Caminho da Graça - Estação Brusque.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A IGREJA QUEBRA GALHO DA VIDEIRA

Jesus disse que Ele está para nós assim como a Videira está para os ramos.



Sem videira todo ramo é pedaço de pau e somente isto.



Sim! É madeira morta, boa para ser queimada.



Os cristãos, no entanto, foram enganados e deixaram-se enganar, pois,
desde que se determinou que "fora da igreja não há salvação", que a
Videira passou a ser a "igreja", e, também, desde então, o Agricultor,
que, segundo Jesus é o Pai, entre os cristãos é o Pastor, ou, em alguns
grupos, o Corpo de Doutrina pelo qual se faz a "poda" de membros.



Assim, para o crente, "permanecer em Jesus", [João 15], é permanecer
firme na "igreja", freqüentando, participando e se submetendo a tudo.



Do mesmo modo, "dar fruto", segundo os crentes e suas emoções
condicionadas por anos de engano religioso, é evangelismo como programa,
é acampamento como devoção, é célula de crescimento, é cantar no grupo
de louvor, é ir à reunião de oração, e, sobretudo, é dar o dízimo em dia.



E o mandamento de amar uns aos outros é algo que os crentes entendem
como amar os que são iguais a eles enquanto os tais não ficarem
diferentes. Nesse dia eles viram desviados.



Ainda no mesmo andar de engano, os crentes pensam que "ser lançado fora"
da Videira é ser disciplinado pelo Agricultor Pastoral ou pelo Conselho
de Agricultura que aplica o Corpo de Doutrinas disciplinadoras e
excludentes, aos quais supostamente não se equivocam ao separar o joio
do trigo no campo do mundo-igreja.



Ser “amigo de Jesus” [João 15], para os crentes é estar em dia com a
doutrina, o dizimo e a freqüência.



Assim, para a maioria dos crentes, emocionalmente, é assim que João 15 é
sentido e praticado.



Ora, o resultado é o desastre cristão desses quase dois mil anos!



De fato, a religião cristã é um estelionato espiritual, pois, chama para
si, como se fora Deus, aquilo que é de Deus e somente passível de
realização Nele.



O que Jesus dizia era tão simples.



O que Ele dizia é apenas isto:



Absorvam a minha Palavra; o meu ensino; e o pratiquem com amor por mim e
por todo ser humano. Se vocês sempre crerem que a Vida de vocês está em
mim e vem da obediência ao mandamento do amor, então, vocês serão meus
amigos; e, assim, toda a verdade de minha Palavra será fato e bem na
vida de vocês. Mas, sem mim, sem vida em meu amor, sem absorção do
Evangelho no coração, por mais que vocês tentem viver e buscar o bem, de
fato vocês serão apenas como galhos soltos, secos e mortos; existindo
sob o engano de que existe vida em vocês, quando, de fato, pela própria
presunção de vocês, estarão mortos sem o saberem.



O resto a História do Cristianismo nos conta!

Caio Fábio - 24 de novembro de 2008.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Deixem os homossexuais em paz

Os evangélicos devem deixar os homossexuais em paz.
Eles não querem um cristianismo que trata homossexualidade como pecado e têm todo o direito de não querer. Deus fez a todos livres para fazerem suas escolhas.
Eles nem precisam reinterpretar a Bíblia e nem arrumar versões que apóiem seu pensamento.
O cristianismo não deve e nem pode ser imposto. Nem por força nem por violência e nem mesmo por persuasão. Tentar convencê-los, contra a sua vontade, seria sim intolerância religiosa. A palavra deve simplesmente ser anunciada; quem aceitar aceitou quem rejeitar rejeitou. Não devemos tentar convencer ninguém, isto é trabalho de Deus.
O livro de Romanos, no capítulo 1, diz, por três vezes, que Deus os entregou às suas próprias inclinações; quem são os evangélicos para fazerem o contrário.
Cada um dará conta de sua vida a Deus.

Pr Julio Soder (cansado desta novela)

Obs: Agradeço ao querido Júlio pela sobriedade demonstrada explicitamente em seu blog, coisa rara no meio pastoral hoje em dia. A mairia prefere não entrar "de sola" nos assuntos polêmicos pra não gerar polêmica, pra não diminuir as entradas dominicais, pra não ser massacrado pelo presbitério/diaconato... outros poucos transbordam em bom senso e convicção em Cristo do que falam. Amém por esses, amém pelo Júlio ! Deus te abençoe, meu irmão !

domingo, 7 de dezembro de 2008

SEM SIMPLICIDADE NÃO HÁ CURA E GRAÇA

O desespero do homem religioso, especialmente do cristão ou do judeu praticantes, é o mais intenso e forte desespero que o coração humano já experimentou. Isso porque esses dois credos religiosos são aqueles que propõem a salvação humana como obra de justiça própria, especialmente de natureza moral.

É verdade que qualquer cristão doutrinado que leia o que acabei de falar dirá imediatamente que isto não é verdade quanto ao Cristianismo e, especialmente, não é verdadeiro em relação ao Protestantismo, em razão de que o arcabouço doutrinário da Reforma postula a salvação pela fé na Graça de Jesus. Todavia, todos sabemos que a doutrina é essa, mas que na prática isto nunca foi verdade para a “igreja”. Sim, porque prega-se essa salvação pela fé apenas como argumento alentador na chegada do “novo-crente”. Porém, no dia seguinte ao da “Decisão de ser Crente”, o indivíduo já começa a ser doutrinado na salvação e na santificação moral e autônoma, realidades essas que cada pessoa tem que conquistar a fim de se manter no posto da salvação pela via de sua irrepreensibilidade moral.

Assim, inicia-se falando o Evangelho como sedução, e, uma vez feito o prosélito, imediatamente ele é transformado num cristão fariseu.

O que segue são barganhas e mais barganhas com Deus, acrescidas de um estado perene de inquietação, nervosismo e culpa — medo de cair... Ou, então, no caso de o indivíduo estar se sentindo “bom” o suficiente para a agradar a Deus pelas suas próprias obras e pela sua própria moral, surge um ser arrogante, nojento e insuportável para a normalidade do convívio humano.

Assim nascem os crentes, tanto os neuróticos pela culpa e pela barganha, quanto também o crente santarado, que é esse ser da “dita-dura”, e que trata com raiva e com inveja aqueles aos quais acusa de serem “pecadores”. Sim, porque nesse caso o espírito de juízo e acusação é proporcional à inveja que se tem da liberdade ou do “pecado” do outro.

Tenho muita pena de ambos os grupos, mas especialmente dos que ficam neuróticos pelo peso das acusações que vêm dos crentes fariseus. A leitura de Mateus 23 nos mostra que, para Jesus, esses tais eram seres profundamente danosos quando estabeleciam contato com outros seres humanos, sempre com a vontade obstinada de desconstruir a individualidade do outro, fazendo deste um clone do crente-boneco-fariseu. “Ai de vós...” — foi o que Jesus repetidamente disse a eles, aos fabricantes de “crentes em série”.

Minha angústia tem a ver com o estado mental adoecido que esses cristãos-fariseus multiplicam e aprofundam a cada novo “discípulo” que fazem. Toda hora atendo “discípulos” desses “cristãos-fariseus” e quase sempre ou os encontro surtados de culpa, medo, débito e pânico de maldição, semi-esquizofrenizados, visto que para se amoldarem à fôrma dentro da qual são postos, a fim de se plastificarem nos moldes “legitimados” pela “religião dos bonequinhos movidos à corda”, tais pessoas precisam matar a si mesmas, aceitando como novo “eu” a caricatura humana proposta pela “igreja”.

Não há alma humana sensível e sincera que aceite tais coisas e não adoeça seriamente. Ora, faz anos que digo isso, bem como faz muito tempo que atendo pessoas sofrendo dos males de alma produzidos pela religião. No entanto, nos últimos anos, a “porteira da alma” se abriu, e a boiada dos angustiados saiu numa corrida atropelada, buscando, aos pinotes de angústia, um pasto de liberdade.

Os vícios mentais incutidos pela religião, todavia, são os mais difíceis de serem removidos e tratados. Isso porque quando você ensina às pessoas acerca da Graça de Deus, a questão que invariavelmente chega, é a mesma: “Mas como pode ser tão simples? Não há mais nada a fazer a não ser confiar que já está pago e viver apenas nesta fé?” — é o que me perguntam.

A pedra de tropeço dos crentes é o Evangelho de Jesus. Sim, são os crentes os que mais dificuldade têm de crer que é apenas crer.

De fato, a maioria sofre da Síndrome de Naamã, o Sírio. Sendo general importante e sofrendo de lepra, foi-lhe recomendado a ir até a presença de Eliseu, o profeta de Samaria. Ao chegar lá, o profeta nem mesmo saiu de casa a fim de atender o general, mas apenas mandou que ele fosse até as águas do Jordão e se lavasse 7 vezes. Naamã não quis ir. Achou simples de-mais. Esperava que Eliseu viesse, lhe prestasse honras, dedicasse a ele um rito, movesse as mãos sobre as feridas dele, e, assim, feitos “os trabalhos”, Naamã fosse declarado curado. De fato, tão contrariado ficou o general, que já estava indo embora quando um de seus servos lhe disse: “Se o profeta tivesse recomendado algo difícil e complicado tu não o farias? Ora, por que não fazes o que ele manda apenas por que é simples?”

O que vejo prevalecer entre os cristãos é que mentalidade do “difícil”, a consciência pagã de Naamã, e os mecanismos de cura pagã, sempre carregados de “correntes e campanhas”, todas baseadas em barganhas com a divindade, sendo que tal pratica é desavergonhadamente chamada de “sacrifício”. Para esses nunca haverá descanso, nem paz e nem a alegria que vem da segurança que se arrima na fé simples.

Enquanto os crentes obedecerem à espiritualidade de Naamã, o Evangelho não produzirá nenhum bem em suas almas!

Toda hora me vêm pessoas que me dizem que não entendem como quando passaram a apenas aceitar a simplicidade do Evangelho de Jesus, e crer que está tudo feito e pago, e que a vida com Deus é simples, e que o andar com Jesus é sereno — pois é fruto da confiança no que Ele já fez por todos nós —, tudo começou inexplicavelmente a mudar para o bem em seus corações. Mas alguns estão tão viciados na barganha com Deus e nos muitos e intermináveis sacrifícios de presença a todos os cultos, células, campanhas, atividades, e muita mão-de-obra dedicada aos líderes da “igreja”, que não conseguem nem mesmo crer que o bem que lhes está atingindo é verdadeiro; pois, para tais pessoas, “não é possível que seja só isto”.

Todavia, é simples mesmo; e bem-aventurados são aqueles que não tropeçam na Pedra de Tropeço e nem na Rocha de Escândalo, que é Jesus, e nem na total simplicidade de Seu Caminho, que é o único Caminho de Paz para a vida.

Quem não crê, que faça seu próprio caminho pelos infindáveis labirintos da religião...

Eu, todavia, me agrado de todo o coração no que Jesus já fez por mim, perdoando todos os meus pecados, me justificando perante anjos, demônios e homens, dando-me a chance de andar com tranqüilidade e paz entre os homens, com o coração pacificado na confiança no amor de Deus, de cujas mãos ninguém e nem coisa alguma pode me arrebatar.

“Quem crê tem...”— disse Jesus. Sim, quem crê tem tudo. Quem não crê, todavia, pode ter tudo — igreja, moral, credo, dogma, sacrifícios, barganhas, etc...—, porém, não terá nem paz e nem descanso, visto que paz e descanso apenas habitam a fé simples, que não pergunta: “Quem subirá aos céus? (isto é: para trazer Jesus à Terra pela encarnação); e nem tampouco diz: Quem descerá ao inferno? (isto é: para dar uma ajudinha a Jesus na ressurreição dos mortos).”

Sim, a fé conforme o Evangelho sabe que a Graça não está longe; ao contrário: sabe que ela está bem perto, na boca e no coração; pois “se com a boca se confessa a Jesus como Senhor..., e, no coração se crê que Deus o ressuscitou dentre os mortos, se é salvo; pois com o coração se crê para obtenção da justiça justificadora de Deus (pela fé), e com a boca se faz a confissão em fé acerca da salvação que já é nossa; e já foi consumada e acabada por Jesus em favor de todo aquele que crê com simplicidade e confiança.

Mas como disse, é essa simplicidade do Evangelho que acaba sendo a Pedra de Tropeço dos crentes. E, assim, deixando a Rocha da Salvação, se entregam às infindáveis barganhas patrocinadas pelos Líderes Fariseus, os quais não contentes em se fazerem filhos do inferno (conforme Jesus disse), ainda desejam corromper a alma de muitos, criando seres atormentados pelas chamas das culpas e acusações do inferno, negando a eles a chance de viverem em liberdade no amor de Deus.

Portanto, saibam todos: sem fé simples e pura, posta em Jesus, confiante no Evangelho da Graça, não há nem paz, nem alegria, nem espontaneidade diante de Deus, e, sobretudo, não há saúde de alma para viver a vida como Vida, e não como tormento sem fim.

Ora, quando é assim a religião se torna a ante-sala do inferno!



Nele, em Quem tudo é simples,



Caio

Fonte:
www.caiofabio.com

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Perdas e ganhos

Perdi a fé. Sem qualquer constrangimento, sem medo, saio do armário e confesso publicamente: Perdi a minha fé. Estou consciente que hei de constar no fichário condenatório do Santo Ofício. Corro o risco de ser torturado no garrote gospel.

Receberei inúmeras advertências. Minha caixa postal vai se entupir com mensagens de gente decepcionada. Serei aconselhado a não destruir o meu “futuro promissor”; vão lembrar-me do fogo do inferno, reservado para quem retrocede. Mas não há muito o que fazer, não planejei perder a fé.

Caminhei pelos porões escuros da humanidade. Conversei com pessoas carbonizadas no fogo do sofrimento. Vi crianças subnutridas, sem força sequer de sugar o peito mirrado da mãe. Li uma tonelada de tratados teológicos que tentavam explicar o sofrimento universal. Ouvi um sem-número de sermões sobre a condição humana. Temi os castigos eternos e aprendi sobre os meios que conduzem ao perdão divino. Entretanto, pouco a pouco, vi-me desgostoso com explanações, que julgava simplórias - a princípio, apenas antipatias. Depois, passei a rejeitar o que as pessoas chamavam de fé. Por fim, conscientizei-me que simplesmente não era mais condômino do edifício onde residiam muitos religiosos.

Perdi a fé em um Deus que precisa de pilha para mover o braço. Deixei de acreditar que a “Duracell” que faz Deus “funcionar” seja a fé. No passado, eu procurei mostrar à Deus toda a minha sinceridade. Eu acreditei, piamente, que, caso conseguisse acabar com a dúvida ou hesitação, seria testemunha ocular de grandes prodígios. Jejuei para mortificar a mente; eu precisava calar as minhas inquietações. Certa vez, ao lado do leito de morte de um amigo, chorei desesperadamente; não pelo amigo que agonizava, mas por mim. Eu sabia que, por mais que tentasse, nunca conseguiria demonstrar uma fé inabalável. Meu amigo morreu e eu carreguei por muito tempo, a culpa dele não ter sido curado.

Perdi a fé em um Deus que recusa atender qualquer petição enquanto não houver santidade total. Diziam-me que Deus só ouve os “vasos” puros. Um pensamentos furtivo era suficiente para eu me sentir um lixo humano. Imaginava os difíceis graus de devoção e pureza necessários para eu poder “reivindicar” uma bênção. Vi que jamais teria acesso à bondade divina porque as minhas penitências nunca foram suficientes. Como nunca fui devidamente alvo, minha imperfeição me condenava; um pastor sem milagres, portanto, desqualificado.

Perdi a fé em um Deus que só opera nas micro-realidades. Eu acreditava que Deus intervém pontualmente, isto é, focado e restrito às complicações e necessidades de pessoas. Mas eu não me sentia inquieto. Sequer perguntava: por que essa mesma fé intervencionista não serve para resolver, por milagre, as desgraças que assolam nações e continentes? Ora, se Deus abre uma porta de emprego para um indivíduo, porque não reverte com uma simples ordem, a crise econômica que desemprega milhões?

Perdi a fé em um Deus discriminatório. Já não consigo acreditar em um Deus que pinça alguns para premiar com milagre, mas deixa muitos outros a ver navios. Não faz sentido aplicar a lógica dos bingos e das loterias nos espaços religiosos - para cada sortudo sobram milhões de azarados. Se há razões misteriosas para Deus agir assim, e ninguém pode questionar; se ele trabalha no escuro e a vida é um tapete trançado que só faz sentido do lado da eternidade, então só resta à humanidade seguir os trilhos do destino. Fé não passa de uma mera submissão à bitola do que já foi providencialmente traçado por Deus.

Perdi a fé, mas não sou incrédulo.

Ganhei uma nova fé que celebra a imanência de Deus. Agora percebo que Deus não está longe, mas vive em nós e entre nós. Seu nome é Emanuel, o Deus conosco. Ele está mais próximo que nosso hálito, mais entranhado que nossa medula e mais íntimo que nossos pensamentos. E fez o seu tabernáculo no coração dos homens e das mulheres.

Ganhei uma fé que bendiz a compreensibilidade de Deus. Ele não mede nossa inadequação com critérios tão rigorosos que precisaríamos nos transformar em anjos. Como pai, Deus não leva em conta as nossas transgressões, pois se lembra que somos pó. Deus não rejeita, mas perdoa. Sua pedagogia é libertadora.

Ganhei uma fé que não espera por intervenções de Deus. Minha fé virou uma aposta: Creio que os valores do Reino são suficientes para que eu atravesse a vida sem perder a alma. Minha fé possui uma convicção: Jesus é o modelo digno de ser imitado. Estou certo que seguindo as suas pegadas serei justo, solidário e realizado.

Ganhei uma fé que não tem a expectativa de favoritismo. Busco a mesma atitude de Moisés que, diante da possibilidade do povo não entrar na terra prometida, disse: “Se eles não entrarem, risca o também o meu nome do livro da vida”. Antes de ser brindado por qualquer dádiva, espero que as crianças famintas do Congo, Darfur e sertão cearense, tenham água, comida, roupa, educação e muitos brinquedos.

Estou feliz pela fé que perdi, mas esfuziante com a nova fé que ganhei.

Soli Deo Gloria.

Texto do sempre querido (por nós) e muito odiado (por muitos outros) conterrâneo Ricardo Gondim.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Amores Impossíveis: Parábolas do Amor de Deus

Disse-me o Senhor: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses… (Oséias 3:1)
Outro dia alguém me perguntou como ficam as pessoas que amam com o amor que jamais acaba, enquanto relacionamentos podem acabar mesmo quando há amor.

De fato, essa é uma das grandes questões e uma das maiores dores existenciais que os humanos têm que enfrentar dentro do coração a vida inteira.

Eu creio que alguns sentimentos acabam. Mas acredito que o verdadeiro amor, mesmo entre homem e mulher, jamais acaba.

Quando alguém entra nesse mistério do coração —o amor— e vive a experiência de não poder ficar com quem ama —seja lá por que circunstâncias forem—, tal pessoa sofrerá a pior tortura que o ser pode experimentar, mas não desejará ficar curada de sua própria dor, pois o amor não quer se curar de si mesmo, ainda que muitas vezes clame pedindo compaixão aos céus, implorando por “libertação”. Todavia, se a “opção de cura” lhe for oferecida, suicidamente, o amor a repudirá, visto que não pode negar-se a si mesmo.

O amor é mais forte do que a morte!

Por essa razão, terá que existir em fidelidade a si mesmo, mesmo que seja contra si mesmo.

Grande é este mistério!

Ora, para todo aquele que sofre desse “bem”, resta apenas um consolo: Deus também sofre dele.

É apenas porque o amor de Deus é assim —e Deus é amor— que toda manifestação genuina de amor está, eventualmente, fadada ao sacrifício.

Mas são desses sacrifícios do amor que a humanidade inteira retira seu fôlego de esperança para continuar existindo.

Neste mundo caído, quanto mais sublimes são as realidades, mais passíveis de dor elas se mostrarão.

Quem não desejar correr tal risco deverá buscar ser raso e superficial durante toda a vida. Porém, não terá sabido o gosto de viver.

Até o que é mais sublime —como o é o amor—, terá que receber, nesta Terra de Dores, a glória da coroa de espinhos.

É o amor coroado com espinhos!

É assim o amor em meio à Queda!

É a vida!

Quem não tiver encontrado tal amor, não o busque. Quem foi encontrado por ele, saiba: não adianta fugir dele.

Seu ciúme de ser quem é é mais implacável que a sepultura.

Não deve ser jamais acordado. E isto apenas por uma razão: não pode morrer uma vez que tenha aberto os olhos…


Caio