quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Novo post, enfim

11 dias sem nenhum post novo... natal, novo e tudo o mais...

Tem sido dias bem corridos e problemas não tem faltado. Estou até pensando em abrir uma empresa de exportação deles.

Estou lendo o Confissões de um Pastor, do Caio Fábio. Encontrei um trecho bem interessante, onde ele vai à aldeia de uma tribo no amazonas e por lá fica uns dias. Transcrevo abaixo (é longo, mas bem interessante):

— Quando eu cheguei aqui, não sabia nada sobre os yscarianas. Vim apenas porque queria
aprender a língua deles e traduzir a Bíblia para o idioma. Quando chegamos, eles nos receberam
com tranqüilidade. Não sabíamos como nos comunicar, mas percebemos que eles eram
diferentes, nos traziam comida e riam muito para nós. Um dia, quando eu estava escovando os
dentes na beira do rio, um indiozinho veio e ficou bem ao meu lado, olhando-me enfiar aquela
escova na boca e mexer de um lado para o outro. Fiquei sem graça. Levantei, olhei para o rio e
decidi assobiar um hino. Aprontei o bico e soprei os sons de Santo, Santo, Santo, Deus onipotente.
De repente, percebi que o rapazinho estava assobiando comigo. Parei e olhei para ele, mas ele
continuou a assobiar sozinho. O índio sabia o hino todo e assobiou-o com um riso maroto no
canto da boca, enquanto eu arregalava os olhos.
— Mas como? Quem já tinha pregado o evangelho pra eles? Onde é que eles aprenderam
Santo, Santo, Santo? — perguntei curiosíssimo.
— Há uma tribo chamada uai-uai. Eles são das matas venezuelanas. Lá nas florestas onde
viviam, chegaram uns missionários e falaram sobre o evangelho com eles. A tribo inteira se
tornou cristã e eles decidiram que seriam os porta-vozes de Deus na floresta. Eles estão
percorrendo as matas pregando para outros índios — informou-me Desmundo, enquanto eu
quase não acreditava na beleza daquilo que ouvia.
— E a conversão dos yscarianas, como aconteceu? — indaguei com profunda ansiedade.
— Os uai-uai chegaram aqui perto, abriram uma clareira, acamparam e mandaram uma
comitiva até aqui. “Mandem alguns homens porque temos boas novas para vocês”, eles
mandaram dizer. Então, os yscarianas mandaram uma comitiva. Liderando o grupo foi o
feiticeiro da tribo, o sacerdote, o pajé. O nome dele é Araca. Lembra do homem de cabelo cortado
redondo em forma de cuia? Aquele que eu apresentei a você em primeiro lugar? Ele é o Araca.
Eles foram até lá e se sentaram com os líderes dos uai-uai. Ouviram sobre a visita do Filho de
Deus ao mundo. Disseram não saber que KorinKumam tinha um filho. Mas os uai-uai disseram
que Jesus era o filho de KorinKumam. Ouviram várias histórias de milagres do evangelho, todas guardadas na memória dos uai-uai. Eles voltaram para casa e reuniram a tribo toda. Araca disse
que daquele dia em diante ele só faria orações a Jesus, o filho de KurinKumam. Muitos fizeram a
mesma coisa e a maioria da tribo se tornou cristã. Foi assim que tudo aconteceu — contou
Desmundo com um olhar puro, limpo, cheio de amor, o que fazia seus olhos crescerem enquanto
falava.
— Mas e você e sua esposa? Qual foi o papel que vocês tiveram nisso tudo? — perguntei,
querendo saber no que consistia a vida e a missão deles no lugar.
— Bem, eu não sou pastor e nem pregador. Sou antropólogo e lingüista. Mas antes de tudo,
eu sou cristão. Minha missão aqui foi aprender a língua deles, criar um alfabeto e ensiná-los a ler.
Fiquei quase sete anos fazendo isso. Enquanto esse trabalho era feito, eu traduzia trechos da
Bíblia para eles. Com a ajuda de Araca, traduzi o evangelho de Marcos, que é bem simples, o
evangelho de João, as cartas de São Paulo aos Romanos e a Timóteo, e as epístolas de São Pedro.
Eu dou o texto a eles e deixo que decidam que tipo de cristãos querem ser. Não estou tentando
impor nada — ele me disse com muita certeza de seus objetivos naquele particular.
— E que tipo de cristãos eles se tornaram? — indaguei com ansiedade e doido para ouvir
alguma coisa que reforçasse as minhas teses sobre o obsoletismo das formas de culto e prática da
Igreja atual, pois estava convicto de que muito do que a igreja pratica hoje não tem nada a ver com
a Bíblia. São apenas tradições, feitas sagradas. Só isso. — Mas sim, em que tipo de crentes eles se
tornaram? — insisti.
— Cristãos primitivos, quase como os do Novo Testamento. Só que são mais puros, pois
nunca foram judeus — disse brincando.
— Como assim? Na prática, como é isso? Por exemplo, como é que eles batizam, a quem
eles batizam e como é que eles dirigem a igreja? Eles têm pastor? Qual é a hierarquia que eles
têm, se é que têm alguma? E os líderes da tribo? São os mesmos da igreja? Há separação de
casais? E a vida sexual? Um homem pode ter mais de uma mulher? E os espíritos, eles ainda têm
algum vínculo com eles? — foram todas as questões que eu despejei sobre ele, excitado de tanta
curiosidade.
— Eles batizam dos dois modos: tanto por aspersão, jogando a água na cabeça, como fazem
os católicos, anglicanos e presbiterianos; como também batizam por imersão, mergulhando a
pessoa no rio Nhamundá. Depende do tempo. Quanto está frio, vai de um jeito, quando está
quente, vai do outro. Eles batizam os que se convertem. Mas às vezes, quando os pais pedem, eles
também batizam crianças. Eles também têm pastores; são oito. O Araca é o líder maior, mas eles
decidem tudo juntos. Quanto a casamento, não há separação aqui. Quando um homem não quer
mais sua mulher, ele não a deixa. Apenas não toca mais nela, mas cuida dela. Quem já tinha mais
de uma mulher quando se converteu, manteve todas. Os que estão se casando agora, depois que
se tornaram cristãos, estão sendo aconselhados a ter uma só. Mas quem quer, pode ter mais de
uma, só não pode é ser líder da igreja. Os pastores têm que ser maridos de uma só mulher, como
eles leram na carta de São Paulo. Mas não pode haver adultério. Se um homem quer ter outra
mulher, não deve nunca ser uma já casada. Tem que ser solteira, e a esposa dele tem que
consentir.
Eu fiquei perplexo com tudo aquilo. De fato, jamais pensara que na vida eu fosse ser
apresentado a um quadro tão fantasticamente original quanto aquele.
— Mas e você, Desmundo, você não tenta passar para eles coisas que você pratica e crê? —
perguntei, achando quase impossível que pudesse ser diferente.
— Não. Eu não digo nada, a menos que me perguntem. Mas quando eles me perguntam
algo, eu sempre respondo que aquilo é apenas a minha opinião — afirmou.
— Mas e se você vê na Bíblia um mandamento claro a respeito daquilo? O que você diz? Você
diz o que consta na Bíblia? — questionei com a decisão de quem estava acostumado a dizer como
as pessoas deviam viver.
— Não, eu não os mando fazer nada, mesmo quando tenho opiniões bem claras sobre o
assunto. Eu apenas mostro o que está escrito na Bíblia e digo para eles irem pensar e orar juntos.
Às vezes eles voltam com a mesma opinião que eu tenho. Outras vezes, não — concluiu com um
certo orgulho de seu método cientificamente tão “isento e democrático”.
— Mas Desmundo, por que é que você faz assim? Se você sabe a verdade, você tem que
passar para eles! — falei um pouco impaciente.
— Mas o que é a verdade? O que eu vejo como verdade, outro pode ver de modo diferente.
Uma coisa que eu aprendi nos estudos, mas muito mais no convívio com os índios, é como eu
estou completamente condicionado a ver a vida como inglês. Por mais que eu queira ser isento na
minha leitura da Bíblia, eu não consigo. Eu sempre leio a Bíblia com o olhar de minha família,
criação e cultura nacional e religiosa. Então, como eu vou saber se eu estou lendo de fato a Bíblia
ou apenas vendo coisas com meus olhos europeus? — falou, dando-me de graça uma fantástica
aula de antropologia missionária.

O livro também está disponível no site do próprio Caio.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Apenas 2 Denários !

Domingo à noite, após a reunião, fomos até o centro da cidade para ver uma apresentação natalina. Estava muito cheio gente e permaneci de longe tentando ouvir.

Passado algum tempo chegou uma pessoa que fazia um tempo eu não via. Uma cristã verdadeira, porém absorvida em pensamentos e concepções evangélicas, que não do Evangelho. Não a julgo de maneira nenhuma, pois faz o que muito fiz. Por aqui nesses dias é inevitável as perguntas: “ E vocês estão bem? Foram afetados pela enchente?”. Após saber que tudo estava bem, ela começou sua explanação de livramento: “Eu passei a noite repreendendo pra gente ficar imune, afinal Deus faz diferença entre seus justificados pelo sangue de Jesus. Mesmo que seja verdade que muitos crentes foram atingidos” E eu sem querer ser grosseiro só dizia: “pois é”. Tentei desconfortá-la: “Acho que quem Deus “imunizou” tem o dever de ajudar os afetados não é? Fiquei triste de ver igrejas mantendo suas programações normais, enquanto a água engolia muita gente. Sua igreja fez algo em favor das pessoas?” . “Não” ela me disse. “temos lá 3 cestas básicas mas Deus não nos mostrou o que fazer com elas”. Eu ouvi isso ao fundo de hinos cristãos em praça pública, executados por “mundanos” que fizeram uma campanha pra arrecadar brinquedos usados pra crianças na redondeza pra não passarem o natal em branco. Fui remetido a uns minutos antes, quando estávamos na reunião da estação lendo em Lucas 10, o bom Samaritano, onde conclui:

Um teólogo perguntou a Jesus: Mestre que devo fazer pra ser um salvo? Ao que Jesus respondeu: Como resumes tua teologia? “ Amar a Deus sobre tudo e de toda forma, e o próximo como a si mesmo” – respondeu o teólogo. E Jesus retornou: “bingo”, faz isso e serás salvo. Infelizmente, Jesus ouve sua última pergunta:“Quem é o meu próximo?”.

Então Jesus decide contar uma história:
Certa família foi pega de surpresa por uma tragédia. Uma chuva intensa, fez com que um barranco desmoronasse nos fundos de sua casa e trouxe lama até sua cozinha. Eles olharam e viram que muito mais podia vir abaixo. Quando desceram a rua pra pedir ajuda pra salvar os móveis, perceberam que estavam ilhados pela água que havia tomado a rua com mais de 1 metro de altura. Ficaram desesperados por uns 4 dias, mesmo tendo sido alojados num galpão de uma igreja católica pela defesa civil. Pouca coisa sobrou de seus poucos pertences e a casa condenada.

Diante da situação um pastor lamentava, pois as coisas podiam ser diferentes se esse povo se voltasse pra Deus. Desse modo as pessoas ficariam protegidas, assim como ele foi. Por isso não pode parar, ele tinha um culto pra prestar ao Deus que o socorreu. Era também dia de entregar sua oferta no altar.

Logo depois, passou um ministro gospel, que teve de fazer um contorno imenso por outro caminho pra chegar no templo. Quase chegou atrasado pra campanha de 72 horas de louvor sem interrupção. Felizmente chegou bem no horário de sua escala.

Pra salvação da família que havia perdido tudo, um próximo bem distante, quem sabe de Recife, São Paulo ou Porto Alegre ou mesmo do outro lado da cidade, falou com sua patroa:“ Pega umas roupas e aquele colchão do quarto de visitas. Pega também uns 2 denários lá na gaveta pra comprar uns mantimentos. Tem uma carreta que vai levar isso pra umas pessoas que precisam mais do que nós. Depois com o décimo terceiro a gente vê se consegue ajudar um pouco mais.

No final a pergunta de Jesus: Qual desses é o próximo?

Amar a Deus com força, coração, alma e entendimento é direcionar o serviço ao próximo, mesmo que seja com apenas 2 denários.

Denário = renda pelo trabalho de 1 dia. Na média salarial brasileira uns R$ 25,00.

Direto do Caminho da Graça - Estação Brusque.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A IGREJA QUEBRA GALHO DA VIDEIRA

Jesus disse que Ele está para nós assim como a Videira está para os ramos.



Sem videira todo ramo é pedaço de pau e somente isto.



Sim! É madeira morta, boa para ser queimada.



Os cristãos, no entanto, foram enganados e deixaram-se enganar, pois,
desde que se determinou que "fora da igreja não há salvação", que a
Videira passou a ser a "igreja", e, também, desde então, o Agricultor,
que, segundo Jesus é o Pai, entre os cristãos é o Pastor, ou, em alguns
grupos, o Corpo de Doutrina pelo qual se faz a "poda" de membros.



Assim, para o crente, "permanecer em Jesus", [João 15], é permanecer
firme na "igreja", freqüentando, participando e se submetendo a tudo.



Do mesmo modo, "dar fruto", segundo os crentes e suas emoções
condicionadas por anos de engano religioso, é evangelismo como programa,
é acampamento como devoção, é célula de crescimento, é cantar no grupo
de louvor, é ir à reunião de oração, e, sobretudo, é dar o dízimo em dia.



E o mandamento de amar uns aos outros é algo que os crentes entendem
como amar os que são iguais a eles enquanto os tais não ficarem
diferentes. Nesse dia eles viram desviados.



Ainda no mesmo andar de engano, os crentes pensam que "ser lançado fora"
da Videira é ser disciplinado pelo Agricultor Pastoral ou pelo Conselho
de Agricultura que aplica o Corpo de Doutrinas disciplinadoras e
excludentes, aos quais supostamente não se equivocam ao separar o joio
do trigo no campo do mundo-igreja.



Ser “amigo de Jesus” [João 15], para os crentes é estar em dia com a
doutrina, o dizimo e a freqüência.



Assim, para a maioria dos crentes, emocionalmente, é assim que João 15 é
sentido e praticado.



Ora, o resultado é o desastre cristão desses quase dois mil anos!



De fato, a religião cristã é um estelionato espiritual, pois, chama para
si, como se fora Deus, aquilo que é de Deus e somente passível de
realização Nele.



O que Jesus dizia era tão simples.



O que Ele dizia é apenas isto:



Absorvam a minha Palavra; o meu ensino; e o pratiquem com amor por mim e
por todo ser humano. Se vocês sempre crerem que a Vida de vocês está em
mim e vem da obediência ao mandamento do amor, então, vocês serão meus
amigos; e, assim, toda a verdade de minha Palavra será fato e bem na
vida de vocês. Mas, sem mim, sem vida em meu amor, sem absorção do
Evangelho no coração, por mais que vocês tentem viver e buscar o bem, de
fato vocês serão apenas como galhos soltos, secos e mortos; existindo
sob o engano de que existe vida em vocês, quando, de fato, pela própria
presunção de vocês, estarão mortos sem o saberem.



O resto a História do Cristianismo nos conta!

Caio Fábio - 24 de novembro de 2008.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Deixem os homossexuais em paz

Os evangélicos devem deixar os homossexuais em paz.
Eles não querem um cristianismo que trata homossexualidade como pecado e têm todo o direito de não querer. Deus fez a todos livres para fazerem suas escolhas.
Eles nem precisam reinterpretar a Bíblia e nem arrumar versões que apóiem seu pensamento.
O cristianismo não deve e nem pode ser imposto. Nem por força nem por violência e nem mesmo por persuasão. Tentar convencê-los, contra a sua vontade, seria sim intolerância religiosa. A palavra deve simplesmente ser anunciada; quem aceitar aceitou quem rejeitar rejeitou. Não devemos tentar convencer ninguém, isto é trabalho de Deus.
O livro de Romanos, no capítulo 1, diz, por três vezes, que Deus os entregou às suas próprias inclinações; quem são os evangélicos para fazerem o contrário.
Cada um dará conta de sua vida a Deus.

Pr Julio Soder (cansado desta novela)

Obs: Agradeço ao querido Júlio pela sobriedade demonstrada explicitamente em seu blog, coisa rara no meio pastoral hoje em dia. A mairia prefere não entrar "de sola" nos assuntos polêmicos pra não gerar polêmica, pra não diminuir as entradas dominicais, pra não ser massacrado pelo presbitério/diaconato... outros poucos transbordam em bom senso e convicção em Cristo do que falam. Amém por esses, amém pelo Júlio ! Deus te abençoe, meu irmão !

domingo, 7 de dezembro de 2008

SEM SIMPLICIDADE NÃO HÁ CURA E GRAÇA

O desespero do homem religioso, especialmente do cristão ou do judeu praticantes, é o mais intenso e forte desespero que o coração humano já experimentou. Isso porque esses dois credos religiosos são aqueles que propõem a salvação humana como obra de justiça própria, especialmente de natureza moral.

É verdade que qualquer cristão doutrinado que leia o que acabei de falar dirá imediatamente que isto não é verdade quanto ao Cristianismo e, especialmente, não é verdadeiro em relação ao Protestantismo, em razão de que o arcabouço doutrinário da Reforma postula a salvação pela fé na Graça de Jesus. Todavia, todos sabemos que a doutrina é essa, mas que na prática isto nunca foi verdade para a “igreja”. Sim, porque prega-se essa salvação pela fé apenas como argumento alentador na chegada do “novo-crente”. Porém, no dia seguinte ao da “Decisão de ser Crente”, o indivíduo já começa a ser doutrinado na salvação e na santificação moral e autônoma, realidades essas que cada pessoa tem que conquistar a fim de se manter no posto da salvação pela via de sua irrepreensibilidade moral.

Assim, inicia-se falando o Evangelho como sedução, e, uma vez feito o prosélito, imediatamente ele é transformado num cristão fariseu.

O que segue são barganhas e mais barganhas com Deus, acrescidas de um estado perene de inquietação, nervosismo e culpa — medo de cair... Ou, então, no caso de o indivíduo estar se sentindo “bom” o suficiente para a agradar a Deus pelas suas próprias obras e pela sua própria moral, surge um ser arrogante, nojento e insuportável para a normalidade do convívio humano.

Assim nascem os crentes, tanto os neuróticos pela culpa e pela barganha, quanto também o crente santarado, que é esse ser da “dita-dura”, e que trata com raiva e com inveja aqueles aos quais acusa de serem “pecadores”. Sim, porque nesse caso o espírito de juízo e acusação é proporcional à inveja que se tem da liberdade ou do “pecado” do outro.

Tenho muita pena de ambos os grupos, mas especialmente dos que ficam neuróticos pelo peso das acusações que vêm dos crentes fariseus. A leitura de Mateus 23 nos mostra que, para Jesus, esses tais eram seres profundamente danosos quando estabeleciam contato com outros seres humanos, sempre com a vontade obstinada de desconstruir a individualidade do outro, fazendo deste um clone do crente-boneco-fariseu. “Ai de vós...” — foi o que Jesus repetidamente disse a eles, aos fabricantes de “crentes em série”.

Minha angústia tem a ver com o estado mental adoecido que esses cristãos-fariseus multiplicam e aprofundam a cada novo “discípulo” que fazem. Toda hora atendo “discípulos” desses “cristãos-fariseus” e quase sempre ou os encontro surtados de culpa, medo, débito e pânico de maldição, semi-esquizofrenizados, visto que para se amoldarem à fôrma dentro da qual são postos, a fim de se plastificarem nos moldes “legitimados” pela “religião dos bonequinhos movidos à corda”, tais pessoas precisam matar a si mesmas, aceitando como novo “eu” a caricatura humana proposta pela “igreja”.

Não há alma humana sensível e sincera que aceite tais coisas e não adoeça seriamente. Ora, faz anos que digo isso, bem como faz muito tempo que atendo pessoas sofrendo dos males de alma produzidos pela religião. No entanto, nos últimos anos, a “porteira da alma” se abriu, e a boiada dos angustiados saiu numa corrida atropelada, buscando, aos pinotes de angústia, um pasto de liberdade.

Os vícios mentais incutidos pela religião, todavia, são os mais difíceis de serem removidos e tratados. Isso porque quando você ensina às pessoas acerca da Graça de Deus, a questão que invariavelmente chega, é a mesma: “Mas como pode ser tão simples? Não há mais nada a fazer a não ser confiar que já está pago e viver apenas nesta fé?” — é o que me perguntam.

A pedra de tropeço dos crentes é o Evangelho de Jesus. Sim, são os crentes os que mais dificuldade têm de crer que é apenas crer.

De fato, a maioria sofre da Síndrome de Naamã, o Sírio. Sendo general importante e sofrendo de lepra, foi-lhe recomendado a ir até a presença de Eliseu, o profeta de Samaria. Ao chegar lá, o profeta nem mesmo saiu de casa a fim de atender o general, mas apenas mandou que ele fosse até as águas do Jordão e se lavasse 7 vezes. Naamã não quis ir. Achou simples de-mais. Esperava que Eliseu viesse, lhe prestasse honras, dedicasse a ele um rito, movesse as mãos sobre as feridas dele, e, assim, feitos “os trabalhos”, Naamã fosse declarado curado. De fato, tão contrariado ficou o general, que já estava indo embora quando um de seus servos lhe disse: “Se o profeta tivesse recomendado algo difícil e complicado tu não o farias? Ora, por que não fazes o que ele manda apenas por que é simples?”

O que vejo prevalecer entre os cristãos é que mentalidade do “difícil”, a consciência pagã de Naamã, e os mecanismos de cura pagã, sempre carregados de “correntes e campanhas”, todas baseadas em barganhas com a divindade, sendo que tal pratica é desavergonhadamente chamada de “sacrifício”. Para esses nunca haverá descanso, nem paz e nem a alegria que vem da segurança que se arrima na fé simples.

Enquanto os crentes obedecerem à espiritualidade de Naamã, o Evangelho não produzirá nenhum bem em suas almas!

Toda hora me vêm pessoas que me dizem que não entendem como quando passaram a apenas aceitar a simplicidade do Evangelho de Jesus, e crer que está tudo feito e pago, e que a vida com Deus é simples, e que o andar com Jesus é sereno — pois é fruto da confiança no que Ele já fez por todos nós —, tudo começou inexplicavelmente a mudar para o bem em seus corações. Mas alguns estão tão viciados na barganha com Deus e nos muitos e intermináveis sacrifícios de presença a todos os cultos, células, campanhas, atividades, e muita mão-de-obra dedicada aos líderes da “igreja”, que não conseguem nem mesmo crer que o bem que lhes está atingindo é verdadeiro; pois, para tais pessoas, “não é possível que seja só isto”.

Todavia, é simples mesmo; e bem-aventurados são aqueles que não tropeçam na Pedra de Tropeço e nem na Rocha de Escândalo, que é Jesus, e nem na total simplicidade de Seu Caminho, que é o único Caminho de Paz para a vida.

Quem não crê, que faça seu próprio caminho pelos infindáveis labirintos da religião...

Eu, todavia, me agrado de todo o coração no que Jesus já fez por mim, perdoando todos os meus pecados, me justificando perante anjos, demônios e homens, dando-me a chance de andar com tranqüilidade e paz entre os homens, com o coração pacificado na confiança no amor de Deus, de cujas mãos ninguém e nem coisa alguma pode me arrebatar.

“Quem crê tem...”— disse Jesus. Sim, quem crê tem tudo. Quem não crê, todavia, pode ter tudo — igreja, moral, credo, dogma, sacrifícios, barganhas, etc...—, porém, não terá nem paz e nem descanso, visto que paz e descanso apenas habitam a fé simples, que não pergunta: “Quem subirá aos céus? (isto é: para trazer Jesus à Terra pela encarnação); e nem tampouco diz: Quem descerá ao inferno? (isto é: para dar uma ajudinha a Jesus na ressurreição dos mortos).”

Sim, a fé conforme o Evangelho sabe que a Graça não está longe; ao contrário: sabe que ela está bem perto, na boca e no coração; pois “se com a boca se confessa a Jesus como Senhor..., e, no coração se crê que Deus o ressuscitou dentre os mortos, se é salvo; pois com o coração se crê para obtenção da justiça justificadora de Deus (pela fé), e com a boca se faz a confissão em fé acerca da salvação que já é nossa; e já foi consumada e acabada por Jesus em favor de todo aquele que crê com simplicidade e confiança.

Mas como disse, é essa simplicidade do Evangelho que acaba sendo a Pedra de Tropeço dos crentes. E, assim, deixando a Rocha da Salvação, se entregam às infindáveis barganhas patrocinadas pelos Líderes Fariseus, os quais não contentes em se fazerem filhos do inferno (conforme Jesus disse), ainda desejam corromper a alma de muitos, criando seres atormentados pelas chamas das culpas e acusações do inferno, negando a eles a chance de viverem em liberdade no amor de Deus.

Portanto, saibam todos: sem fé simples e pura, posta em Jesus, confiante no Evangelho da Graça, não há nem paz, nem alegria, nem espontaneidade diante de Deus, e, sobretudo, não há saúde de alma para viver a vida como Vida, e não como tormento sem fim.

Ora, quando é assim a religião se torna a ante-sala do inferno!



Nele, em Quem tudo é simples,



Caio

Fonte:
www.caiofabio.com

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Perdas e ganhos

Perdi a fé. Sem qualquer constrangimento, sem medo, saio do armário e confesso publicamente: Perdi a minha fé. Estou consciente que hei de constar no fichário condenatório do Santo Ofício. Corro o risco de ser torturado no garrote gospel.

Receberei inúmeras advertências. Minha caixa postal vai se entupir com mensagens de gente decepcionada. Serei aconselhado a não destruir o meu “futuro promissor”; vão lembrar-me do fogo do inferno, reservado para quem retrocede. Mas não há muito o que fazer, não planejei perder a fé.

Caminhei pelos porões escuros da humanidade. Conversei com pessoas carbonizadas no fogo do sofrimento. Vi crianças subnutridas, sem força sequer de sugar o peito mirrado da mãe. Li uma tonelada de tratados teológicos que tentavam explicar o sofrimento universal. Ouvi um sem-número de sermões sobre a condição humana. Temi os castigos eternos e aprendi sobre os meios que conduzem ao perdão divino. Entretanto, pouco a pouco, vi-me desgostoso com explanações, que julgava simplórias - a princípio, apenas antipatias. Depois, passei a rejeitar o que as pessoas chamavam de fé. Por fim, conscientizei-me que simplesmente não era mais condômino do edifício onde residiam muitos religiosos.

Perdi a fé em um Deus que precisa de pilha para mover o braço. Deixei de acreditar que a “Duracell” que faz Deus “funcionar” seja a fé. No passado, eu procurei mostrar à Deus toda a minha sinceridade. Eu acreditei, piamente, que, caso conseguisse acabar com a dúvida ou hesitação, seria testemunha ocular de grandes prodígios. Jejuei para mortificar a mente; eu precisava calar as minhas inquietações. Certa vez, ao lado do leito de morte de um amigo, chorei desesperadamente; não pelo amigo que agonizava, mas por mim. Eu sabia que, por mais que tentasse, nunca conseguiria demonstrar uma fé inabalável. Meu amigo morreu e eu carreguei por muito tempo, a culpa dele não ter sido curado.

Perdi a fé em um Deus que recusa atender qualquer petição enquanto não houver santidade total. Diziam-me que Deus só ouve os “vasos” puros. Um pensamentos furtivo era suficiente para eu me sentir um lixo humano. Imaginava os difíceis graus de devoção e pureza necessários para eu poder “reivindicar” uma bênção. Vi que jamais teria acesso à bondade divina porque as minhas penitências nunca foram suficientes. Como nunca fui devidamente alvo, minha imperfeição me condenava; um pastor sem milagres, portanto, desqualificado.

Perdi a fé em um Deus que só opera nas micro-realidades. Eu acreditava que Deus intervém pontualmente, isto é, focado e restrito às complicações e necessidades de pessoas. Mas eu não me sentia inquieto. Sequer perguntava: por que essa mesma fé intervencionista não serve para resolver, por milagre, as desgraças que assolam nações e continentes? Ora, se Deus abre uma porta de emprego para um indivíduo, porque não reverte com uma simples ordem, a crise econômica que desemprega milhões?

Perdi a fé em um Deus discriminatório. Já não consigo acreditar em um Deus que pinça alguns para premiar com milagre, mas deixa muitos outros a ver navios. Não faz sentido aplicar a lógica dos bingos e das loterias nos espaços religiosos - para cada sortudo sobram milhões de azarados. Se há razões misteriosas para Deus agir assim, e ninguém pode questionar; se ele trabalha no escuro e a vida é um tapete trançado que só faz sentido do lado da eternidade, então só resta à humanidade seguir os trilhos do destino. Fé não passa de uma mera submissão à bitola do que já foi providencialmente traçado por Deus.

Perdi a fé, mas não sou incrédulo.

Ganhei uma nova fé que celebra a imanência de Deus. Agora percebo que Deus não está longe, mas vive em nós e entre nós. Seu nome é Emanuel, o Deus conosco. Ele está mais próximo que nosso hálito, mais entranhado que nossa medula e mais íntimo que nossos pensamentos. E fez o seu tabernáculo no coração dos homens e das mulheres.

Ganhei uma fé que bendiz a compreensibilidade de Deus. Ele não mede nossa inadequação com critérios tão rigorosos que precisaríamos nos transformar em anjos. Como pai, Deus não leva em conta as nossas transgressões, pois se lembra que somos pó. Deus não rejeita, mas perdoa. Sua pedagogia é libertadora.

Ganhei uma fé que não espera por intervenções de Deus. Minha fé virou uma aposta: Creio que os valores do Reino são suficientes para que eu atravesse a vida sem perder a alma. Minha fé possui uma convicção: Jesus é o modelo digno de ser imitado. Estou certo que seguindo as suas pegadas serei justo, solidário e realizado.

Ganhei uma fé que não tem a expectativa de favoritismo. Busco a mesma atitude de Moisés que, diante da possibilidade do povo não entrar na terra prometida, disse: “Se eles não entrarem, risca o também o meu nome do livro da vida”. Antes de ser brindado por qualquer dádiva, espero que as crianças famintas do Congo, Darfur e sertão cearense, tenham água, comida, roupa, educação e muitos brinquedos.

Estou feliz pela fé que perdi, mas esfuziante com a nova fé que ganhei.

Soli Deo Gloria.

Texto do sempre querido (por nós) e muito odiado (por muitos outros) conterrâneo Ricardo Gondim.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Amores Impossíveis: Parábolas do Amor de Deus

Disse-me o Senhor: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses… (Oséias 3:1)
Outro dia alguém me perguntou como ficam as pessoas que amam com o amor que jamais acaba, enquanto relacionamentos podem acabar mesmo quando há amor.

De fato, essa é uma das grandes questões e uma das maiores dores existenciais que os humanos têm que enfrentar dentro do coração a vida inteira.

Eu creio que alguns sentimentos acabam. Mas acredito que o verdadeiro amor, mesmo entre homem e mulher, jamais acaba.

Quando alguém entra nesse mistério do coração —o amor— e vive a experiência de não poder ficar com quem ama —seja lá por que circunstâncias forem—, tal pessoa sofrerá a pior tortura que o ser pode experimentar, mas não desejará ficar curada de sua própria dor, pois o amor não quer se curar de si mesmo, ainda que muitas vezes clame pedindo compaixão aos céus, implorando por “libertação”. Todavia, se a “opção de cura” lhe for oferecida, suicidamente, o amor a repudirá, visto que não pode negar-se a si mesmo.

O amor é mais forte do que a morte!

Por essa razão, terá que existir em fidelidade a si mesmo, mesmo que seja contra si mesmo.

Grande é este mistério!

Ora, para todo aquele que sofre desse “bem”, resta apenas um consolo: Deus também sofre dele.

É apenas porque o amor de Deus é assim —e Deus é amor— que toda manifestação genuina de amor está, eventualmente, fadada ao sacrifício.

Mas são desses sacrifícios do amor que a humanidade inteira retira seu fôlego de esperança para continuar existindo.

Neste mundo caído, quanto mais sublimes são as realidades, mais passíveis de dor elas se mostrarão.

Quem não desejar correr tal risco deverá buscar ser raso e superficial durante toda a vida. Porém, não terá sabido o gosto de viver.

Até o que é mais sublime —como o é o amor—, terá que receber, nesta Terra de Dores, a glória da coroa de espinhos.

É o amor coroado com espinhos!

É assim o amor em meio à Queda!

É a vida!

Quem não tiver encontrado tal amor, não o busque. Quem foi encontrado por ele, saiba: não adianta fugir dele.

Seu ciúme de ser quem é é mais implacável que a sepultura.

Não deve ser jamais acordado. E isto apenas por uma razão: não pode morrer uma vez que tenha aberto os olhos…


Caio

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Doações Enchente 2008

Deixo aqui para todos, e fixo na lateral do blog, o número de contas para doações a favor dos desabrigados em Santa Catarina. As contas aí presentes foram disponibilizadas pela Prefeitura Municipal de Blumenau.


Nessa semana também foi aberta conta no Banrisul, agência 0131 (Blumenau) conta 06.852725.0.5, Favorecido Fundo enchente 2008 SC.

Segue teu próprio caminho...

Então, Pedro, voltando-se, viu que também o ia seguindo o discípulo a quem
Jesus amava, o qual na ceia se reclinara sobre o peito de Jesus e perguntara: Senhor, quem é o traidor?

Vendo-o, pois, Pedro perguntou a Jesus: E quanto a este?

Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te
importa?

Quanto a ti, segue-me.

João 21:20-22



Pouca gente tem coragem de perguntar "quanto a mim". A maioria apenas quer saber dos outros.

A questão pode parecer piedosa. "Quem é o traidor?" Ou pode soar suavemente ressentida. "E quanto a este?" — mas o que se quer, pela pergunta que não é "quanto a mim", é usar o amor recebido a fim de granjear privilégios de informações que são apenas fruto da intimidade com um outro-mais-poderoso do que nós; ou então tem a ver com comparar o destino dos outros com o nosso.

No primeiro caso encontra-se com a mais sutil vaidade. No segundo com uma sutil forma de ressentimento que busca comparações.

Ora, João sabia por si mesmo que não era o traidor. E Pedro sabia que era amado, e que poderia cuidar das ovelhas de Jesus, apesar de o haver traído. Mas quem resiste querer saber sobre o destino alheio? Sim, especialmente quando se tem a liberdade de deitar sobre o peito de Jesus, à semelhança de João; ou mesmo quando se o ouviu dizer que nós, apesar de perdoados, ainda encontraremos a nós mesmos em fraqueza, sendo guiados para onde não se quer, sem controle sobre as circunstâncias? — como era o caso de Pedro em particular.

Assim é o coração humano em estado natural, por melhor que seja. Quer saber acima dos demais, esteja alegre ou triste.

Não basta que no coração se saiba quem se é; pois sempre se quer saber sobre o outro!

Sim, parece que o destino dos outros é o que referenda quem somos, e não quem de fato se é.

A cura que Jesus propõe é simples. Ele nos faz nos interessarmos por nosso próprio caminho; pois, somente assim teremos coração para cuidar de nós mesmos e dos outros — e não do destino alheio — sem o espírito que se envaidece quando o nosso caminho parece mais fofo; e nem com o coração que só se sente amado se o destino dos outros for pior que o nosso, do nosso ponto de vista.

Portanto, que ecoe para sempre em cada de nós a afirmação de Jesus: "Quanto a ti, segue-me".

Aqui reside a saúde de nosso caminhar, seja o que for o que nos aguarde. Seja como a longevidade de João, com o mito de que ele não morreria; ou como o caminho de Pedro, com a certeza da fraqueza e da morte.

Sim, que te importa? Ou o que me importa?

O que importa é apenas o "quanto a ti" dito por Jesus a nosso respeito; e, conseqüentemente, nossa disposição de perseverar em nosso próprio caminho Nele — que é o Caminho de todos nós.


Caio

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Livro “Bono: In Conversation With Michka Assayas”.

No livro, Bono (vocalista do U2) fala sobre sua interessante espiritualidade e princípios do cristianismo.Há vários livros que falam sobre o U2 e o irônico vocalista Bono Vox (a maior estrela do rock), porém até agora Bono não havia contado sua história. No livro “Bono: In Conversation With Michka Assayas”, o roqueiro compartilha seus pensamentos com um jornalista francês e seu amigo, que está junto da banda desde o começo dela. Em uma série de perguntas e respostas, Bono discute vários assuntos, como a morte de sua mãe, quando era criança, e de seu pai, que morreu há alguns anos, o começo da banda, seus companheiros de banda, seu casamento, sua paixão por ações sociais, o efeito que sua vida tem por ser uma celebridade, sua fé e como isso permeia tudo.

A conversa entre Bono e Assayas aconteceu devido ao ataque terrorista em Madri, onde foram colocadas bombas em um trem no ano de 2004, deixando 1800 pessoas feridas e 191mortas.

Os dois estavam discutindo como o terrorismo é carregado pela religião quando Bono começou a falar do cristianismo, expressando sua preferência pela graça de Deus sobre o “carma”, mostrando sua visão apologética da morte de Cristo e sua clara mensagem sobre a palavra de Deus.

Bono: A minha compreensão das escrituras foi feita simplesmente pela pessoa de Cristo. Cristo ensina que Deus é amor. O que isso significa? Significa para mim um estudo sobre a vida de Cristo. Amor aqui é descrito como uma criança nascida num lar pobre, vulnerável e sem honra. Eu não deixo minha religião muito complicada. Bem, eu penso que eu conheço quem é Deus. Deus é amor e quanto mais eu falo deste amor, mais eu permito ser transformado pelo amor e agir por esse amor, que é minha religião. As coisas se tornam complicadas quando eu tento viver esse amor. Não é fácil.

Assayas: E o Deus do Antigo Testamento? Ele não era tão “paz e amor”?
Bono: Nada afeta a minha visão de Cristo. O evangelho mostra uma figura de exigência, às vezes até dividindo o amor, mas mesmo assim, continua sendo amor. Eu acredito no Antigo Testamento como um filme de ação: sangue, carros se batendo, efeitos especiais, o mar se abrindo, assassinatos, adultérios, a criatura de Deus com desejo de matar, rebelde. Mas a maneira que eu vejo uma relação de Deus é como um amigo. Quando você é criança você precisa de instruções e regras. Mas com Cristo, nós temos acesso a um relacionamento mais íntimo, enquanto no Antigo Testamento, a relação de adoração era mais vertical. No Novo Testamento, por outro lado, nós olhamos para um Jesus familiar, horizontal. A combinação é o que faz Ele na cruz (o credo da cruz).

Assayas: Falando sobre filmes de ação, nós falávamos sobre a América Central e do Sul, em nossa última conversa. Os jesuítas falavam sobre a palavra de Deus com uma mão trazendo a Palavra e a outra uma arma.
Bono: Eu sei, eu sei. A religião pode ser inimiga de Deus. Isso acontece quando Deus, assim como Elvis, sai da jogada (risos). As instruções foram ditas e dogmas são seguidos em uma congregação liderada por um homem, em que ele e os outros são guiados pelo Espírito Santo. O problema é quando a disciplina substitui o discipulado. Por que você está me atirando isso?

Assayas: Eu estava imaginando se você disse tudo isso ao Papa no dia em que você o encontrou.
Bono: Não sejamos tão duros com a igreja romana aqui. A igreja católica tem seus problemas, mas quanto mais velho eu fico mais estímulo eu encontro aqui (para lutar pelo que é certo). A experiência de estar em uma multidão de pessoas humildes, oprimidas, de pessoas que oram murmurando…

Assayas: … Então aí você não seria tão crítico.
Bono: Eu posso criticar (a igreja católica). Mas quando eu vejo irmãos e irmãs ajudando no trabalho de AIDS na África, padres e freiras ficando doentes e pobres por estarem dando de si pelas vidas na África, eu sou menos agressivo.

Um pouco mais tarde na conversa:
Assayas: Eu acho que estou começando a entender religião porque eu estou agindo e pensando como um pai. O que você acha disso?
Bono: Eu acho que é normal. É a mente se transformando com conceitos de que Deus, que criou o universo, pode estar querendo companhia, um relacionamento de verdade. Mas o que me deixa ajoelhado é a diferença de graça e carma.

Assayas: Eu nunca ouvi você falar disso
Bono: Eu acredito que nós somos movidos pelo carma, mas um nos move pela Graça.

Assayas: Eu não entendi
Bono: A idéia de todas religiões é o carma. Sabe, o que você fala volta pra você, olho por olho, dente por dente, ou na física, toda ação causa uma reação. É muito claro para mim que o carma é o coração do universo. Eu tenho certeza absoluta disso. Mas aí surge uma idéia chamada Graça, em que mesmo com o “tudo o que você planta, colherá” desafia a razão e a lógica. O amor “interrompe” as conseqüências de suas ações (com o perdão), que no meu caso é algo muito bom, pois eu faço muitas besteiras.

Assayas: Eu ficaria interessado em ouvir isso
Bono: Isso é entre eu e Deus. Mas eu teria grandes problemas com carma se ele definisse meu julgamento (seria condenado). Estou me mantendo pela Graça. Creio estar livre, pois Jesus levou todos os meus pecados na cruz, porque eu sei quem eu sou e espero não depender da minha religiosidade.

Assayas: “O filho de Deus que tira o pecado do mundo”. Eu queria acreditar nisso.
Bono: Mas eu amo a idéia do sacrifício de Cristo. Eu amo a idéia de Deus dizer: “Olhem seus cretinos, terão conseqüências o que vocês estão fazendo, vocês são muito egoístas e são pecadores por natureza e, vamos encarar, você não está vivendo uma vida muito boa, está?” E existem conseqüências para os atos. A idéia da morte de Cristo é que Cristo levou os pecados desse mundo, então ele (o pecado) não pode mais habitar em nós, e a nossa natureza pecaminosa não nos levará para a morte. Esta é a idéia. Isso deveria nos fazer mais humildes… não é por sermos bons que vamos para o paraíso.

Assayas: É uma grande idéia, e não estou negando. Esperança é algo maravilhoso, até mesmo quando parece ser alucinação, em minha percepção. Cristo tem seu status ao redor do mundo nos maiores críticos e pensadores. Mas o “Filho de Deus”, isso não é um pouco forçado?
Bono: Não, isso não é forçado para mim. Olhe bem, a história de Cristo como não sendo ligada a religião sempre é vista assim: Ele era um grande profeta, um rapaz muito interessante, tinha muito o que dizer de importante até para outros profetas. Mas na verdade Cristo não permite dizer isso. Cristo diz: “Não, eu não estou dizendo que eu sou um professor, não me chamem de professor. Eu não estou dizendo que sou um profeta. Eu digo: “Eu sou o Messias”. Eu digo: “Eu sou Deus encarnado”. E as pessoas dizem: “Não, não, por favor, seja somente um profeta. Um profeta nós conseguiremos aceitar”.

E Bono diz mais tarde, como considerar Jesus:
Bono:… Se nós pudéssemos ser um pouco mais como Ele, o mundo seria transformado. Quando eu olho para a Cruz de Cristo, o que vejo é que lá estão todos os meus pecados e os pecados de todas as pessoas do mundo. Então eu pergunto a mim mesmo uma pergunta que muitos fazem: Quem é esse homem?

Fonte: DotGospel

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A BÍBLIA É BABEL

A Bíblia não pode estar acima da vida. A maior autoridade na vida é a vivência mesma e não o texto sagrado da religião. O que contraria um pilar da tradição evangélica. Proponho inverter a afirmação tradicional. A vida é a maior autoridade sobre a Bíblia.

A hermenêutica evangélica da Bíblia hierarquiza o texto sagrado dividindo-o em patamares de estilo e valor: o texto normativo e o narrativo. Por ser uma escrita escorregadia, marcada pelas singularidades e obscuridades das experiências humanas, o texto narrativo precisa ser iluminado pelo texto normativo, aquele que discorre sobre Deus e doutrina a vida do crente. Sendo assim, grande parte dos evangelhos e do Livro dos Atos dos Apóstolos careceria ser interpretada com o auxílio preciso das Cartas Apostólicas. Também se sujeitariam a estes os poéticos e apocalípticos. Afinal de contas, o que fazer com o sorteio que define a vontade de Deus para a substituição no colégio apostólico, ou com a quantidade exorbitante de vinho providenciada pelo festeiro Nazareno transformando água em vinho? Os narrativos escandalizam, os normativos devolvem a ordem.

Esta compreensão hierarquizada da Bíblia já é uma “ginástica” conceitual para administrar a violência imposta à vida humana ao submetê-la a uma autoridade carente de dinamismo, à força fria do que está escrito. Os textos narrativos, maioria sugestiva da Bíblia, são repletos de ambigüidades, contradições, tensões, becos sem saída e imprecisões, porque são o retrato da vida de homens e mulheres que experimentaram Deus em épocas e culturas próprias. Da mesma forma que o discurso religioso quer sujeitar a vida ao texto bíblico, sua hermenêutica obriga-se a calar a polifonia irresistível dos textos narrativos com a mordaça dos chamados textos normativos.

Como se já não bastasse a hercúlea tarefa de arranjar a “Bíblia” de forma a maquiar suas imprecisões textuais e sua distância cultural em relação ao leitor, impõe-se ao crente arranjar sua vida de forma a encaixá-la na moldura das Escrituras, ou pelo menos dar esta impressão. Entenda o enquadramento da vida pelas Escrituras pelo que delas se compreende e se institui como fiel interpretação. Assunto com que já nos ocupamos em textos anteriores a este.

Acredito que precisamos ampliar o alcance da doutrina cristã da encarnação. O Deus que se fez gente deveria ser a mais importante chave de compreensão da Bíblia. Sendo assim, podemos entender o gesto de se esvaziar da condição acima da vida para assumir a condição humana de viver como a rendição de Deus à única realidade em que o que diz à humanidade pode fazer sentido, na vivência.

A Palavra de Deus se enche de sentido no Verbo Encarnado. O Verbo Vivo não mata a vida para se impor como doutrina. “O ladrão vem para roubar, matar e destruir”. Doutrina que não se vivencia assalta a vida. Mas a Palavra encarnada é a que vivencia radicalmente a existência humana e nela promove a vida intensamente. (Jo 10.10) O movimento divino de encarnação é um ato libertador. É negação de qualquer fala que se desconectou da vida para a sua afirmação redentora. Antes de dizer, desdizer.

Talvez por isso Jesus tenha usado com freqüência as locuções “Ouvistes o que foi dito aos antigos (…) eu, porém, vos digo que (…)” (Mt 5.22-44) Um Deus encarnado precisa dizer de novo. Reinterpretar o que sempre disse, pois fala de dentro da dinâmica existencial dos viventes. Fala com cheiro, com timbre, com cara, com batimentos cardíacos, com cultura e história, é a Raiz de Jessé, o Filho de Davi. Judeu nazareno oprimido pelos romanos. É provavelmente carpinteiro, certamente pobre. É filho de Maria, primo de João Batista. É “comilão e beberrão”. É rabi. É o filho do homem. É gente. Tem que desdizer e dizer de novo.

Acredito que foi por isso que Jesus suspendeu a prática do jejum em determinado momento, rito previsto e normatizado na Lei, negando qualquer sentido ao jejum na “presença do noivo” Como também colocou o Sábado a serviço da vida humana e a libertou de seu senhorio desastroso: o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. A vida é sagrada e não o mandamento do sábado. A Bíblia foi feita a partir da vida humana e não a vida humana a partir da Bíblia. A Bíblia sagra-se na vida.

Jesus re-significou a lei diante da mulher flagrada em adultério. A célebre pergunta “quem não tiver pecado atire a primeira pedra” seguida do perdão nada mais foi que a vida legislando sobre a Lei. Silenciou a opressão da palavra que acusa e condena e deu voz ao perdão e à esperança. Jesus é a vida se impondo sobre a letra. Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou? Tão pouco eu te condeno. Vá e abandone a vida de pecado.”

A grande pressão sofrida por Jesus, sua maior tentação, foi a de inverter a relação. Violentar a vida impondo sobre ela as regras vindas do alto. Ao que respondeu com uma metáfora. “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. (Jo 12.24) Mesmo diante da morte previsível, Jesus se nega a jogar com outras regras que não as da vida. As únicas que poderiam produzir muito fruto. Regras acima da vida fariam a palavra de Jesus uma palavra solitária, sem sentido. A palavra encarnada na vida, inclusive na possibilidade previsível da morte, é solidária, é comunhão, são muitos frutos, tem muito sentido. O mundo é reconciliado com Deus apenas na palavra que frutifica no solo da existência humana.

É por isso que o pregador que vocifera promessas de milagre precisa deixar o púlpito e freqüentar os quartos de hospitais onde esperam pelo último suspiro centenas de enfermos. Gente que nunca experimentará a tal “fé” que produz milagres. Pela mesma razão lamento a dor, mas celebro a oportunidade de ter a companhia de pastores que experimentaram o fim do casamento. Eles sim têm o que dizer sobre a interpretação de textos bíblicos a respeito do divórcio e novo casamento. Festejo a globalização e o acesso em tempo real aos fatos do mundo, pois enquanto reclamamos de Deus um jeitinho para os nossos mínimos problemas somos também constrangidos pelos campos de refugiados em Darfur.

Não tenho dúvida de que essa necessidade de alçar o texto bíblico acima do mundo vivido é uma manobra de perpetuação de poder, ou seja, da religião instituída. Apenas a instituição teme a leveza da vida humana, sua imprevisibilidade a ameaça, seu descontrole a esvazia, sua circunstancialidade a relativiza. Por isso o texto precisa emoldurar a vida humana e confirmar a relevância da religião organizada. Não consigo parar de repetir que a Bíblia que se posiciona acima da vida é sempre a imposição de uma interpretação dela e nunca ela mesma.

A Bíblia em si mesma é a sabotagem divina à sistematização dos amantes do poder. A Bíblia é Babel. A confusão de línguas e histórias impedindo a divinização dos edifícios. Babel é a vida liberta por Deus das amarras hegemônicas dos poderosos. A Bíblia é Deus confundindo os esforços cartesianos de aprisionamento da verdade. A Bíblia é Deus libertando a vida das razões absolutizantes. A Bíblia é Deus babelizando os poderosos e espalhando a verdade por tantos viventes quantos haja. A Bíblia é tão narrativa quanto à vida. E tão desorganizada, imprevisível, imprecisa, surpreendente e contraditória quanto a vida de qualquer um de nós.

E é justamente porque a Bíblia se parece muito com a vida humana que tem muito e sempre o que dizer à humanidade. Sendo um livro essencialmente narrativo é Deus falando enquanto vivemos.

Gadamer fala da compreensão como um jogo. Um jogo dialógico e dinâmico. Como em um jogo, só se compreende bem algo, suas regras e funcionamento, a medida que é vivenciado. Aprendemos um jogo não quando lemos suas regras, mas quando o jogamos. Aí sua dinâmica é apreendida. Ninguém aprende a jogar a partir de uma manual de regras, mas a partir do jogo mesmo. Porque um jogo é muito mais que as regras de seu funcionamento. É intuição. Discernimento. Interpretação. Improviso. Imaginação. Só então as regras do jogo fazem algum sentido.

A Palavra de Deus também. Enquanto vivemos, a Bíblia pode ser compreendida na dinâmica do que experimentamos. O que diz só faz sentido a partir do que vivenciamos. O que acreditamos dizer a Bíblia como Palavra de Deus é apenas o que faz sentido na vida que experimentamos aqui e agora. O que cai no solo da existência humana e frutifica. O que promove e afirma a vida humana. “A letra mata, mas o Espírito vivifica”.

Para a vida humana, com tantas vozes e imprevisível, uma Bíblia tão falante e tão surpreendente.

Elienai Cabral Junior

Obs: Tantas coisas já vivemos e falamos com os próximos a respeito de coisas como essa. "Queremos vida", é o que temos afirmado (os três autores do blog) constantemente. O Elienai nesse texto conseguiu exprimir com uma maestria impressionante esse sentimento. particularmente, foi a alegria dessa segunda melancólica e cinzenta. Impossível não dedicar isso aos amigos, mais do que irmãos, e toda a turma do Caminho Canoas que ontem proporcionou a nós todos uma noite tão gostosa.

Funk Gospel Parte I



É disciplina, mascarado!!

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

PARA PAULO QUEM ERAM OS INIMIGOS DA CRUZ?

Acabo de assistir no Discovery Channel a um documentário sobre a tomada de Edessa pelos cristãos no tempo dos Cruzados.O grito cristão era: Contra os Inimigos da Cruz!—fazendo referencia aos mulçumanos.E me choquei...sempre me choco.

Inimigos da Cruz de Cristo é uma frase horrivelmente comovente aos sentidos dos religiosos cristãos. Dá um sentido de cruzada mesmo. As cruzadas entraram na alma da “igreja” de uma maneira definitiva. Sempre tem uma cruzada.Até o nome diz o que a coisa era. Para defender a Cruz de Cristo só mesmo cruzada neles.

Assim, os inimigos da Cruz de Cristo se tornaram os pagãos, os diferentes e os inaceitáveis.A questão é: Quem eram os inimigos da Cruz de Cristo aos quais Paulo fazia referencia?Certamente que se você pegar as cartas dele—e esse trabalho eu já tive para mim há muito tempo, agora, deixo para você mesmo a certificação—e as ler com conhecimento mínimo dos contextos históricos; ou seja: do que estava acontecendo em Jerusalém, nos movimentos anticristãos do judaísmo e dos movimentos de cristãos judaizantes; se souber sobre costumes, comportamentos e significados psicológicos e culturais de muitas coisas mencionadas com o “uso de palavras” e que, muitas vezes, hoje nem mais representam aquilo a que um dia designaram; e também tiver idéia do que diziam os filósofos da época e quais eram os movimentos do capital econômico e de quais eram as forças políticas na ocasião...Então, a percepção das coisas que Paulo diz ficam muito mais claras.

No entanto, há mais do que isto... Mesmo sem saber de nada disso, se você é sensível para o Espírito, você sente que há um espírito que liga e amarra todas as coisas: o espírito da graça de Deus em Cristo. É assim que Paulo via.

Era o seu mundo que via. Até os apocalipses de Paulo são certezas em fé, não visões.Quando você lê a Paulo com esses olhos e com o coração que não esquece de duas outras coisas pelo menos—que ali havia um homem, com todas as ambigüidades e ambivalências de um homem; e que ali havia a inspiração divina num coração para quem a Graça não tinha limites—então, tudo se ilumina.

Desse ponto em diante você vê que para Paulo o inimigo da Cruz de Cristo jamais seria o sacerdote pagão—aliás, nos dias dele havia aos milhares, mas ele não fala quase nada do assunto—, mas sempre aquele que tentava duas coisas: fazer-se representante de Deus (como os judeus fanáticos e os cristãos judaizantes) e reduzir as conquistas da Cruz aos condicionantes da lei, dos costumes e dos sistemas de auto-justificação ou mesmo auto-santificação humanos.

Assim, para Paulo, voltando ao documentário do Discovery Channel, o inimigo da Cruz de Cristo não eram os mulçumanos contra os quais os Cruzados se lançavam com fúria religiosamente assassina e devota, mas eles mesmos e, sobretudo, aqueles que em suas mentes haviam feito o signo supremo da Graça se transformar numa devoção ao ideal religioso-político de conquista.

Com esse espírito, como você acha que Paulo enxergaria a história do Cristianismo e também aquilo que em nome de Jesus foi feito e é feito em nossos dias?Cuidado, ver a vida com os olhos de Paulo pode ser terrivelmente subversivo.

Daí ele ter sido tão perseguido pelos legalistas—tantos entre os judeus como entre os falsos irmãos.

Caio

domingo, 16 de novembro de 2008

Desabafo

Diante das incoerências já há muito vistas, da falta de tato no tratar, da intolerância, da gana pelo crescimento numérico (adesões), de teologias absurdas, de culto às tendências norte-americanas, de "endeusamento" no que deveria ser forma e não causa e, finalmente, da incapacidade de se perceber e de assumir erros, bem como da nossa incongruência com a dita igreja (a institucional, que carrega as características descritas aqui), eu e minha esposa nos permitimos sair da mesma.

Não apenas "deixar de ir". Não foi isso. Sair, nesse contexto, significa "não concordamos com isto frente ao evangelho de JESUS e ao que o mesmo tem falado conosco", de maneira que evitamos envolvimento em certas rotinas ministeriais por não desejarmos mais tomar parte do que acreditamos que, numa primeira impressão, pode até ser bom; mas numa análise mais profunda, desperta sentimentos (soberba, inchamento de ego, fortalecimento do poder dominativo, etc...) que se manifestarão de maneira extremamente negativa num futuro próximo.

Não estamos aqui também renegando nosso passado, essencialmente batista. Quando resolvi me batizar na Igreja Batista, lembro que minha mãe não aprovou a idéia. Entendeu como uma rejeição ao batismo católico que ela e meu pai haviam me dado. Quero deixar bem claro, de hoje em diante, para tudo e para todos, para o inferno satânico e ao "inferno" terrestre movido por corações duros e com pouca (ou nenhuma) capacidade de amar, que somos fruto de um processo violento e arrebatador, no qual a igreja teve um papel fundamental. Fomos ricamente nutridos por duas igrejas em nossa terra natal, e somos conseqüencia de eventos cuja causa foi manifesta nelas, quase que em sua totalidade.

Isso me faz lembrar que sempre há esperança ! E a minha, no que diz respeito à minha vontade é imortal. Eu não mato minha esperança, os outros é que me declaram, com seus atos: "sua esperança é vã !". Sim, porquê uma das maiores verdades que experimentamos no mundo cristão (afinal sempre tivemos vergonha do nome "evangélico") é que o evangelho se demonstra nas pessoas pelo caráter, e quase nunca pelo que se fala.

Aliás, analisando o que fala, percebo que até perdemos tempo, pois seria muito mais proveitoso sairmos dos templos. Como seriam ricos os teatros se metade do povo evangélico estivesse seguindo carreira naquilo que é talento manifesto: interpretação.

A instituição chamada igreja se tornou algo maior do que deveria ser (no nosso sincero entendimento). Isso não tem a ver com tamanho, pois vimos de perto uma igreja de muitos membros não sofrer desse mal, mas sim com a manifestação praticamente exclusiva do Reino de Deus na Terra. A evangélica, principalmente; essa nunca foi tão católica romana quanto agora.

Se as "coisas de Deus" hoje são manifestas como ministérios de igreja, que fique declarado aqui que realmente não queremos mais nos comprometer com isso.

Entendo também que Deus me deu um grande e precioso ministério: minha esposa. Esse vem como prioridade sobre todos os outros. Não viver esse ministério em minha casa, ou ter descaso com ele, querendo que ele seja algo que adeque constantemente às minhas necessidades, principalmente as ministeriais da igreja institucional, é fruto de algo que não vem de Deus, pois família é projeto Dele.

Não vou explicitar se é demoníaco o descumprimento total ou parcial dessa atribuição ministerial. Qualquer um tem o poder de se tornar o próprio diabo na vida de outra pessoa, sem nenhum esforço (principalmente sendo família). Culpar um ser caído daquilo que é meu pecado não é honesto. E no final das contas, eu também mandei Jesus à cruz.

Não estou, em hipótese alguma, gritando aos ventos que encontrei a verdade absoluta. Minha verdade é Cristo, meu salvador. Se houver algum engano na caminhada, assumo-o de peito aberto. Mas o entendimento pelas escrituras e o peso da consciência (que tenta se revestir de verdade) até agora não me acusa em nada.

Estamos optando pela simplicidade. De maneira nenhuma estamos declarando como o melhor caminho para todos. É o melhor caminho para nós. Não queremos nos declarar comos os "verdadeiros filhos de Deus" e nem chamar os que pensam diferente de "filhos do diabo".

Queremos apenas viver o evangelho. Não queremos só pregar, queremos ele em nós. Queremos ter vida de evangelho, compartilhando vida com qualquer um, não só os da instituição eclesiástica, que tantas vezes se fecha em torno de si mesma querendo manifestar algo de Deus, quando Deus o faz apenas quando quer e como quer.

Obviamente, desejamos também que fique bem claro que nossa saída não é fruto de uma "satanização" de nossa parte, de uma adoção do capeta para conosco, de negação ou mesmo de uma des-graça que se abate sobre nossas vidas. Aliás, é exatamente o contrário.

Honestamente, não estamos preocupados com o que estão pensando de nós. Quem nos conhece bem, é porquê andou bem de pertinho conosco por anos. É porquê amou, brigou, orou, chorou e sofreu conosco, e esses confiam no nosso bom senso e respeito ao evangelho. Quem emite opinião e não fez o descrito antes, não conhece, e julga.

Nisso afirmo que não vamos fazer "ping-pong" de idéias com ninguém que não nos conhece bem. Quem quiser, que conheça. Quem não quiser, que julgue e viva com as conseqüências disso.

Afirmo também que não temos interesse algum em teologias. Não me interesso naquilo que tenta definir Deus, dando suas medidas e comprimentos, de maneira que nem o próprio Jesus tentou dar.

Particularmente, acredito que ela hoje serve muito mais para se defender a estrutura, a instituição, visto que dela saem renda e empregos para muita gente que, sem isso, não teria mais o que fazer da vida.

Odeio, com toda a força que é possível, o pensamento pobre e estúpido, mas bem peculiar aos evangélicos, de que as maiorias sempre estão certas e as minorias erradas. Entendo que se muita gente resolvesse sair da igreja e começassem reuniões caseiras, talvez fôssemos vistos como corretos. Esse é o padrão de moral roto de nossa sociedade, que foge ao bom senso e ao criticismo, analisando apenas as tendências.

Entendemos que Jesus não era consultor de moda, e que nunca quis analisar ou fazer parte de tendência nenhuma.

Obviamente que nosso maior inconformismo, caso você tenha entendido o que escrevi até aqui, é com a religião. A igreja em si é mais uma vítima desse sequestro espiritual, algumas vezes propositalmente, outras ingenuamente.

Não acreditamos que a religião possa aproximar alguém de Deus, pois entendemos que ela se desvia do que é natural e cria mecanismos tão complexos que se torna pesada e, muitas vezes, até insuportável. Sempre me pergunto: "onde está isso na Bíblia ?" ou "Se a Bíblia não fala de tudo isso por quê fazemos assim ?".

De qualquer maneira, fugimos do cativeiro. E não damos a mínima para os sequestradores. Pelo menos não enquanto eles forem o que são.

Nosso interesse sempre foi e sempre será com as vítimas, sejam elas potenciais ou de fato.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Duras Lições

Desde os meus 21 anos estou envolvido com o mundo religioso. Sem arrogância, posso afirmar que aprendi bastante sobre seus bastidores, sacristias e porões. Dizer que aprendi não significa que sou inteligente, esperto ou genial, apenas que me enfronhei nesse ambiente. Aprendi que os religiosos, como os demais espaços institucionais, geram as” panelas” do poder.

Geralmente acontece assim: alguém alcança o topo da hierarquia e se acompanha de amigos que desfrutam as benesses da posição. Os outros ambicionam chegar lá, onde o poder, a reputação, os privilégios, são diferenciados. Começam, então, as futricas. A curriola que domina faz de tudo para preservar-se e quem almeja subir, se esforça para suplantar os figurões, seja conspirando ou procurando mostrar-se mais ungido. Aprendi que os religiosos confudem fé com credulidade e ficam furiosos quando contestados.

Acreditar é sagrado, mesmo que não faça sentido ou não tenha plausibilidade com a vida. Os religiosos sabem transformar circunstâncias banais em “testemunhos fantásticos” e se contorcem para explicar tragédias horrorosas como mais um “mistérioso propósito de Deus”. (Por exemplo, estar atrasado para um compromisso e conseguir passar por três sinais de tränsito abertos é um milagre, mas a morte de milhares de crianças em Darfur, um mistério; “o barro não pode questionar o oleiro”).

Aprendi que os religiosos não têm coragem de ser honestos com suas crises internas. Mentem para si e para os outros citando textos da Bíblia, tirados do contexto e incoerentes com a experiência existencial. Tentam enganar-se repetindo que são exitosos no que fazem e experimentam; não admitem que suas vidas são, muitas vezes, uma meia-sola, mera recauchutagem da felicidade.

Os religiosos adoram transformar os cultos em arenas, onde brincam de guerra ou em palcos, onde encarnam personagens míticos poderosos. Isto é, na igreja comportam-se como Hércules, que estraçalha seus inimigos ou como Fênix, que sempre ressurge das cinzas com maior vigor. A realidade, porém, os esbofeteia; negam precisar de terapia psicológica como qualquer mortal; morrem, mas não admitem que tomam ansiolítico.

Aprendi que os religiosos não levam suas lógicas até às últimas consequências. Eles temem perguntas que geram outras perguntas. Aliás, questionar entre os religiosos é sinal de rebeldia e rebelde tem parceria com o demônio. Os religiosos se sentem satisfeitos de citar um versículo (sempre fora do contexto) e dizer que, se “a Bíblia afirma assim e assim, ninguém deve entristecer a Deus com perguntas impertinentes”.

Satisfeitos e acomodados com a interpretação dada por algum teólogo, contentam-se com os textos que lhes soam convenientes. Aprendi que os religiosos só são amigos de quem pensa igual a eles. O que ousar desafiar algum dogma, torna-se persona non grata, pior que leproso dos tempos medievais. Experimentei na pele esse tipo de ojeriza.

Amigos que pareciam legitimamente afetuosos, de repente, sem jamais conversarem olho no olho, passaram a espalhar sórdidos boatos a meu respeito. Rubem Alves tem razão, os religiosos nunca mataram um pecador, eles só assassinam os que consideram herege. Estou convencido que muitos só não me mataram porque cometeriam um crime.

O ódio que os alimenta, porém, é real. Aprendi que os religiosos são egoístas e só consideram relações ensimesmadas com o divino. Eles buscam bênçãos, milagres, intervenções sobrenaturais, para terem vantagem na árdua e perigosa aventura de viver. Caso alguém diga que a resposta às suas preces precisaria se conectar com toda a humanidade; com os miseráveis nos campo de exilados, com as crianças africanas que passam fome, a resposta seria: “E eu com isso?.

Os religiosos se isolam da sorte humana. Egocêntricos, não conseguiriam explicar a graça e a justiça divina, caso recebessem o que acabaram de pedir.


No final dos meus 54 anos, aprendi sobre religião o suficiente para distanciar-me dela. Por isso procuro, constantemente, manter-me apaixonado pelo Evangelho. Afinal de contas, os religiosos conspiraram e mataram Jesus.


Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim

domingo, 9 de novembro de 2008

Panorama Histórico da Igreja no Brasil

Segue abaixo mais dois vídeos (um é continuação do outro) do NaFrequencia.com. Para quem ainda não viu, recomendo a entrevista toda !

Nessa parte temos uma rápida passagem sobre a história da igreja no Brasil. Bastante esclarecedor para quem ainda não conhece muito sobre o assunto, e recomendável para os que já conhecem, ou pensam que conhecem. Assistam e tirem suas conclusões.

A gana por crescimento das igrejas (exclua-se: conversões; escreva-se: adesões) permeia o bate papo.




A PERFEITA IMPERFEIÇÃO DA IGREJA

Leitura: Mateus 18

Tem gente que ainda não entendeu que quando Jesus disse “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu aí estou no meio deles”, Ele estava ensinando qual é o vértice espiritual e histórico que dá significado à Igreja; ou seja: Ele ensina o que “realiza a verdade” da Igreja, como encontro humano.

E o contexto fala de reconciliação. Um irmão “ofendido” tem que procurar o “ofensor” e tentar ganhá-lo. E isto deve ser feito insistentemente, até que o próprio ofensor rejeite toda conciliação.

A palavra grega que designa essa “reunião” é mesma que fala de harmonia, como se o que estivesse em curso fosse uma “afinação de instrumentos”.

O outro pólo mais adulto dessa proposta está em Lucas, quando Jesus diz que se deve perdoar ao irmão até setenta vezes sete num único dia.

Ou seja: a proposta de Jesus nos põe a todos de calça curta, e necessitados de dizer: “Senhor, aumenta-nos a fé; pois ainda não somos cristãos”.

Até o quarto século o que impressionou os “pagãos” que observavam os cristãos não era a “perfeição” deles, mas o amor e a graça com a qual se tratavam e tratavam o mundo.

“Olhem como se amam!”—era a estupefação que ecoava nas palavras de gente que olhava os cristãos de fora, conforme vários testemunhos encontrados em antigos textos históricos.

Portanto, a perfeição da igreja é não se “vender como perfeita”, mas sim se revelar, sem ensaio e performance, como lugar de misericórdia e graça.

Não é possível esperar perfeição de nenhum de nós. Somos caídos e maus...o melhor de nós ainda é mau.

O que nos faz diferentes é nossa atitude, se é honesta com a nossa própria Queda, e, sobretudo, sincera com a Graça que todos nós temos recebidos.

Daí a perfeição do discípulo ser sua humildade... humildade para ser, sem ser ainda o que deseja; humildade para viver com misericórdia, pois ele mesmo carece dela, todos os dias, nos céus e na terra.

Repito: o problema da “igreja” nunca foram os seus erros humanos, mas sim a sua arrogância em relação a não se enxergar, e oferecer-se como a Representante de Deus na terra.

Quem desejar, que tente!

Mas no dia em que deixarmos de lado toda essa empáfia e formos apenas gente da Graça, então, assustados veremos o respeito que o mundo nos terá; conforme aconteceu até o ano 332 da presente era, ainda que algumas vezes o lugar do testemunho tenham sido cruzes e arenas...

E havia problemas antes disso? Sim, sempre houve muitos problemas!

Quem conhece a História sabe deles. E quem lê os textos produzidos nos dois primeiros séculos, sabe da quantidade de dificuldades internas que os vários grupos cristãos tiveram. Todavia, tais problemas não foram problemas reais enquanto o sentido de “irmandade na Graça” esteve presente.

Não foi a perfeição da Igreja que abalou o Império Romano. Foi a sua perfeita-imperfeição; ou seja: sua humanidade vivida sob a graça; e que falava da Boa Nova em Jesus, não nela mesma. Nela havia humildade, serviço, confissão, comunhão e coragem sem empáfia.

Me sinto um bobo escrevendo coisas tão BÁSICAS, mas é que fico assustado quando vejo que os crentes de hoje não têm umbigo, e pensam que estão inventando a “igreja” agora.

E pior: dói-me ver que alguns dizem: “É assim mesmo...temos que nos acostumar...quando é que já foi diferente?”

Bem, foi diferente apenas enquanto todos se sabiam filhos da misericórdia e buscavam renovar a mente conforme o entendimento na Graça; e que só se manifesta no nível horizontal como amor e simplicidade no trato humano, o que acontece naturalmente quando a arrogância dá lugar à gratidão em razão da consciência acerca do perdão recebido.

Jesus não pede perfeição —mesmo quando diz “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai...”—, pois a única perfeição humana é assumir sua própria imperfeição, e, assim, imitar o Pai, não em sua Perfeita-Perfeição, mas em Sua Graça, que Ele derrama sobre justos em injustos.

A perfeição da Igreja é ser humildemente filha desse Pai que a todos trata com misericórdia!

Quem não for cego, que veja; quem não for surdo, que ouça; quem tiver entendimento, não o feche; e quem tiver sido objeto da Graça, que a sirva aos outros.

Nossa perfeição é a Justiça de Cristo!


Caio

CULTO AO TABERNÁCULO!

Sabemos que quando este tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa eterna nos céus! — Paulo, aos Corintios (II).

Sou um ser em passagem. Habito um tabernáculo corpóreo que é herança de meus pais.

Entretanto, assim como o corpo deles [de meus pais] é terreno e corruptível, assim é também o meu.

Desse modo, estou envelhecendo; e meu corpo vai se desgastando; até que chegue o desgaste final; isso se nenhum acidente atingir o tabernáculo e encurtar seus dias de existência.

Aqui estou de passagem. Por isto é que estou no caminhar no Caminho, embora este meu caminhar seja ainda passageiro, posto que resulta de meu mover tabernacular.

Todos os dias vemos pessoas partirem para a eternidade. Entretanto, muitos de nós parecemos existir perenemente sob a ilusão da continuidade daquilo que é passageiro. Ou seja: existem no corpo como se o corpo fosse tudo o que existisse e importasse.

Ora, quem assim existe [apenas para o corpo, o tempo e o espaço] jamais terá poder e força para fazer as renuncias e as escolhas que somente acontecem se motivadas pela presença da eternidade em nós.

Sim! Não há poder para se viver o Evangelho no corpo [único lugar no qual ele deve ser vivido e pode ser vivido] sem que nosso espírito esteja impregnado pela glória da eternidade!

Desse modo [todos os dias] deixo àss coisas que somente julgam importantes os que pensam que a vida no tabernáculo terreno é a única que existe ou que importa; e, assim, abraço resolutamente os significados de meu edifício eterno, ao invés de sucumbir aos apelos do momento que têm o poder de embotar meu significado eterno.

Não adiante alguém tentar se enganar julgando que encontrará sentido para a fé em Jesus apenas na dedicação da vida as coisas deste mundo.

Não! Tal sentido não existe! Pois, o reino de Jesus tanto não é deste mundo, como também não vem com visível aparência; sendo real apenas para aqueles que têm consciência do significado das coisas que não aparecem.

Desse modo, digo:

Quem não se gloria na esperança da glória de Deus jamais se gloriará também nas próprias tribulações — conforme a recomendação de Paulo em Romanos cinco.

Assim, repito:

Sem consciência da transitoriedade de todas as coisas nenhum de nós jamais se alegrará em Deus na presente existência; a qual é cheia de tudo o que não é e não fica; servindo apenas para nos treinar para o que é e fica para sempre.

Neste mundo somente os que discernem o que não é conseguem obter entendimento a fim de privilegiarem as coisas que são.

Ora, o que é, não é muito; mas é tudo; pois, é por ser o que importa, e não por eleições feitas pela vaidade humana.

O que você privilegia? O tabernáculo que se desfaz ou o edifício que não perece?

Pense nisso a fim de que você não brigue por um camarote no Titanic enquanto ele está afundando!

Nele,

Caio

17/04/08

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A VERDADE E A PARÁBOLA (CONTO JUDAICO)

Um dia, a Verdade decidiu visitar os homens, sem roupas e sem adornos, tão nua como seu próprio nome.
E todos que a viam lhe viravam as costas de vergonha ou de medo, e ninguém lhe dava as boas-vindas.
Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, criticada, rejeitada e desprezada.
Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, trajando um belo vestido e muito elegante.
— Verdade, por que você está tão abatida? — perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia e antipática, já que os homens me evitam tanto!
— respondeu a amargurada Parábola.
— Que disparate!
— Sorriu a Parábola.
— Não é por isso que os homens evitam você. Tome. Vista algumas das minhas roupas e veja o que acontece.
Então, a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola, e, de repente, por toda parte onde passava era bem-vinda e festejada.

Os seres humanos não gostam de encarar a Verdade sem adornos. Eles preferem-na disfarçada.

Internet

A internet sendo analisada bem crua e sinceramente é objeto dessa reflexão nessa entrevista feita pelo NaFrequencia.com. Ótimo vídeo ! Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência !


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Novo Tempo




No novo tempo apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos
Estamos mais vivos pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta
Estamos na luta pra sobreviver

Pra que nossa esperança
Seja mais que a vingança
Seja sempre um CAMINHO
Que se deixa de herança

No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça
Estamos na briga pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
De todos pecados, de todos enganos
Estamos marcados pra sobreviver

No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas
Quebrando as algemas pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça
Fazendo pirraça pra sobreviver

Composição: Ivan Lins e Vitor Martins

domingo, 2 de novembro de 2008

Viver é Bem Mais do que Dormir e Acordar

Segue abaixo música de uma ótima banda de rock de grandes amigos nossos lá de Fortaleza. A letra, muito boa por sinal, reflete perfeitamente o caminho que estamos percorrendo nesses dias...

Vai a letra logo abaixo !



Entre a insustentável leveza do ser
E a incurável pobreza do ter
A mentira é contada diariamente
Corrompendo até o mais inocente

Coração enganoso e corrupto
Sorriso tranqüilo...
Consciência em tumulto!!!

É preciso sentir que é preciso mudar
Para um novo caminho, um novo caminhar
Viver é bem mais que dormir e acordar

Eu não sei se essa vida é tudo o que você tem
Se o que você faz é por mal ou por bem
Só sei que ao final me restará dizer:
Amém!!!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Qual é a vontade de Deus pra mim?

Obviamente a vontade de Deus é de Deus.

Sim! A vontade Dele é Dele; e de mais ninguém.

Jesus disse que comia a vontade do Pai, que se alimentava dela.

Ora, se eu tenho muitas vontades e se as exerço de modo pessoal e incompartilhavel, que não dizer da vontade de Deus?

"Quem conheceu a mente do Senhor?"

Além disso, o que me separa de Deus em todos os sentidos possíveis é infinitamente mais do que o que separa de um organismo mono-celular.

Assim, Deus se revela às amebas como as amebas podem processar.

Ora, o mesmo Deus faz com os homens!

O problema é o surto humano. Sim! O homem crê que é "capaz de Deus", e, sobretudo, de dizer aos outros humanos qual seja a vontade de Deus para o outro.

A vontade de Deus é uma só: que nos amemos uns aos outros!

Deus não tem planos profissionais para ninguém. Nem de qualquer outra natureza tópica. O plano de Deus, não importando onde eu esteja, é que eu ame e pratique o amor. O resto é insignificante!

É o que Paulo diz quando afirma: "...
ainda que eu..." fale línguas de homens e anjos, ou profetize, ou saiba todas as ciências e adquira todas as sabedorias, ou me entregue às praticas de martírio ou de entrega social de todas as minhas produções aos demais homens necessitados, mas, "se não tiver amor, nada me aproveitará"; e mais: nada será vontade de Deus.

Paulo nunca discutiu nada disso. Sabia fazer tendas. Mas era chamado para pregar. Por isso, tendo dinheiro para entregar-se apenas à pregação, assim fazia. Mas se não tinha, então, fazia tendas, e, pregava nas horas possíveis.

Ou seja:

Paulo tratava tudo com simplicidade, pois, a vontade de Deus era amor, e, amor, cabe em qualquer oficina de tendas.

As pessoas perguntam, referindo-se aos detalhes da vida, como se eu ou qualquer outro ser ameba humano pudéssemos responder: Qual é a vontade de Deus para a minha vida?

Ora, eu posso responder, mas a resposta que tenho a dar não satisfaz as pessoas que querem saber a vontade de Deus como um guia afetivo e profissional das jornadas na Terra.

Então, não sei!... Afinal, nessas coisas, à semelhança de Paulo, apenas uso o bom senso para decidir, e nunca o faço como quem consulta um "guia de jornada", mas apenas como uma decisão de agora, da circunstancia do existir; e isto, sempre, apenas conforme o espírito do Evangelho, que é amor.

A vontade de Deus são os Seus mandamentos, embora Jesus tenha nos dito que até os mandamentos, sem que sejam vividos em amor, são desagradáveis a Deus; pois, sem amor, todo mandamento não passa de presunção e arrogância.

A vontade de Deus é amor, alegria, paz, bondade, longanimidade, mansidão e domínio próprio!

Se você faz isso entregando o lixo, operando na mais rica clinica de neurocirurgia, ou se o faz pregando como um ensinador da Palavra, não importa; pois, a única coisa que importa para Deus é se você vive ou não o amor como o mandamento de seu ser.

O que Deus quer de mim? Onde quer que eu trabalhe? Com quer que eu case?

Ora, Jesus não respondeu tais perguntas a ninguém!

Quando Pedro quis saber... Jesus apenas disse: "Que te importa? Quanto a ti, vem e segue-me".

Quanto mais a pessoa se dispõe a andar em amor e fé, sem buscar mais nada, tanto mais ela encontrará uma sintonia fina com Deus e com a vida, e, assim, sem que ela sinta, irá sendo posta no leito do rio de sua própria vida.

É claro que Deus tem a vontade que diz "não". Mas essa é a não-vontade de Deus. É o que Deus não quer, pois, é o que Deus não é.

Deus não é mentira, nem engano, nem ódio, nem cobiça, nem traição, não injustiça, nem maldade, nem indiferença, nem descrença, nem altivez, nem orgulho, nem arrogância, nem vaidade, nem medo e nem frieza de ser.

Assim, a tais coisas Deus diz "não", mas não como quem diz a Sua vontade, mas apenas aquilo que não é vontade Dele.

Portanto, a vontade de Deus não é "não", mas "sim", embora a maioria apenas pense na vontade de Deus como negação.

Ou seja:

Para tais pessoas Deus é Aquele que diz "Não".

A proporção, todavia, continua idêntica à que foi estabelecida no Éden. Pode-se comer de tudo, e, apenas diz-se não a uma coisa: inventar a nossa vontade contra essa única coisa à qual Deus disse "não".

Todas as árvores do Jardim são comestíveis, mas, continuamos discutindo a única arvore proibida, tamanha é a nossa fixação na transgressão como obsessão na vida.

Entretanto, a vontade de Deus é sim, e, para aqueles que desejam fazer a vontade de Deus, e não apenas discuti-la, Deus revela Sua vontade como fé e amor, e, nos diz que se assim vivermos provaremos tudo o que é bom, perfeito e agradável, não porque a vida deixe de doer, mas apenas porque o pagamento do amor transcende a toda dor.

A vontade de Deus é que eu desista das coisas de menino nesta vida e abrace as coisas de um homem segundo Deus.

Agora, se você vai trocar de casa, de carro, de mulher, de emprego, de cidade, de país, de nome — sinceramente, é melhor consultar um bruxo, uma feiticeira ou um profeta que aceite pagamento para contar tal historinha.

Você pergunta a Jesus:

Senhor, qual é a Tua vontade para mim?

Ele responde:

É a mesma para todos os homens. Sim! Que você ame e pratique o amor, pois, sem amor, nada será vontade de Deus para você, ainda que você distribua todos os seus bens aos pobres e entregue o seu corpo para ser queimado em martírio de dignidade pela consciência e pela liberdade.

Dá pra entender ou é difícil demais?

Que tal a gente parar de brincar de vontade de Deus? Vamos?

Chega; não é gente?


Nele, que é a vontade de Deus para o homem,


Caio