domingo, 14 de setembro de 2008

Descortinar de Idéias II

Tudo é uma relação de causa e conseqüência. O que se faz (ou se fala) gera algo como resposta, e nosso maior erro é não perceber que a omissão também a gera, mesmo ela sendo o simples "não-fazer" ou a supressão de atos, idéias e manifestações daquilo que está dentro de nós... e que clama para sair.

Eu tenho percebido que a alma das pessoas clama por mudanças. Os "evangélicos" que têm consciência de sua natureza, e um mínimo se senso auto-perceptivo, pedem algo diferente dentro da igreja, relações mais transparentes, mutualidade, cuidado, confrontação e preocupação com o que é verdadeiramente importante: suas vidas. Parte dos que ainda não conhecem Jesus, por sua vez, parecem ter medo de se entregar à Ele devido à atitude das igrejas, e daí nasce o maior absurdo: o fato de que as pessoas pensam que se entregam às igrejas e as mesmas assumirem isso como suposta verdade, visto que, na melhor das hipóteses, as igrejas se omitem em relação à isso e acabam sendo coniventes com essa realidade.

O texto a seguir é do Ariovaldo Ramos. Tivemos o prazer de encontrar com o cara duas vezes, em Recife e em Belo Horizonte. Figuraça. Suas idéias se conectam com o que demonstramos antes várias e várias e várias e várias vezes. Água mole, pedra dura...

O texto seguinte surgiu no meio desse movimento, contra a igreja e a favor da Igreja, de modo que vai ao encontro de tudo que foi demonstrado no Descortinar de Idéias, manifestando como conseqüência o Convite à Doce Revolução.

Não quero fazer proselitismo a favor de ninguém e nem de nenhuma instituição, mas acompanhando textos de Ed René Kivitz (da relevante Igreja Batista de Água Branca, sugiro que leiam os livros dele), Caio Fábio (se você não conhece esse é porque não foi "crente" nos anos 90) , Ricardo Gondim (conterrâneo, pastor da Betesda em São Paulo, um dos mais sinceros que já conheci...), Ariovaldo Ramos (Conselheiro Nacional do Fome Zero... outro que não tem medo de expor suas idéias), é difícil não parar pelo menos pra pensar um pouco antes e dizer "não concordo com tudo isso". Lembrem-se: não concordar é um direito, mas pensar é uma obrigação. 

Abaixo segue o texto do Ariovaldo, boa leitura e bom domingo !

Não Quero Mais Ser Evangélico! - Pr. Ariovaldo Ramos

'Irmãos, uni-vos! Pastores evangélicos criam sindicato e cobram direitos trabalhistas das Igrejas'. Esse, o título da matéria, chocante, publicada pela revista Veja de 9 de junho de 1999 anunciando formação do 'Sindicato dos Pastores Evangélicos no Brasil'.

Foi a gota d'água! Ao ler a matéria acima finalmente me dei conta de que o termo 'evangélico' perdeu, por completo, seu conteúdo original. Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relacionamento histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. O significado de ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no risco de ser grosseiro.

Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque, segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra especializada ou por 'profissionais da fé'. Voltemos à consciência de que o Caminho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter.

Chega dessa 'diabose'! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.
Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome 'meu', mas, o pronome 'nosso'.

Para que os títulos: 'pastor', 'reverendo', 'bispo', 'apóstolo', o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, 'onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei' de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!

Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao 'instruí-vos uns aos outros' (Cl 3. 16).

Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: 'Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. '(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras 'todo o Evangelho ao homem... a todos os homens'. Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que 'acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos', sem adulterar a mensagem.

Fonte: Publicado em 23 de junho de 2003 no site da Rede Sepal, de autoria do Pastor Ariovaldo Ramos.

Diante disso tudo, nós, os 3 patetas do Liberdade pela Graça, deixamos aqui o apelo: pelo amor de Deus, pense ! 

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