sábado, 27 de setembro de 2008

O que fomos, quem somos e para onde vamos

Escolha uma pessoa qualquer em sua igreja, aleatoriamente. Qualquer uma. Agora pergunte à ela questões como "onde ficavam os grandiosos templos neo-testamentários", "de onde vem a liturgia atualmente executada aos domingos", "se estamos hoje debaixo da graça, e não mais da lei, porque ainda falamos de dízimos, quando a oferta ao Senhor deveria ser livre e não um percentual preciso ?" e conte quantos lhe darão respostas convictas e precisas. Talvez esse seja um número contável nos dedos de uma mão só, ou mesmo nem seja necessário contar. [1]

Fui muito duro ? Mas pense bem antes de falar que é heresia ! Nos tempos atuais questionar qualquer líder ou pastor (aliás, de onde vem a hierarquia nas igrejas, se no NT foi estabelecido o sacerdócio universal por Jesus ?) toma proporções de uma afronta ao próprio Deus. Não temos o Pontifex Maximus (oficialmente não... na prática estamos cheios de papas!), mas temos vários se comportando como ele. Não somos mais da Igreja de Roma, mas os costumes herdados do antigo Império Romano e dos templos pagãos continuam presentes até hoje; sim, mesmo apesar da Reforma, que foi essencial para o combate dos excessos de Roma, muito ainda permaneceu. [2]

Não sabemos de onde viemos. Não conhecemos as origens de nossas práticas, então não podemos discernir sobre quais delas são apenas boas (muitas são) e quais são necessárias para o nosso "funcionamento ideal" enquanto filhos de Deus. [3]

Isso também é difícil de aceitar, mas realmente procuramos moldar nossa realidade à Bíblia. Colocamos nossos pontos de vista embebecidos por versículos totalmente fora de contexto a fim de parecermos espiritualmente autênticos. E resumidamente, esse parágrafo sintetiza a história do cristianismo: uma religião cheia de influências externas à ela mesma, que muito absorveu e se diluiu num caldo que praticamente não preserva mais nada de seu sabor original, mas que usa textos fora de contexto (ou pretextos !) para se justificar. [4]

Loucura ? Talvez. Mas confesso que há vários malucos assim mundo afora. Não que isso sirva de para justificar nada, mas deve pelo menos emular alguma reflexão, independente de qualquer conclusão que surja depois disso. Além do mais, o discernimento dos tempos e dos espíritos é algo absolutamente possível para os filhos do Pai. [5]

A essa altura talvez alguns já estejam pensando que isso é "fruto de mentes desligadas e insubmissas da Igreja do Senhor Jesus !". Será mesmo, ou sua metralhadora de juízos já está carregada e pronta para disparar, como já tem sido feito há algum tempo ? Afinal, juízo nasce do pré-conceito de se concluir algo sobre alguma situação que ainda mal se conhece. Mas afinal, não é isso que fazemos todos os dias ? [6]

Pense ! Pondere ! Questione ! E por favor, leia as escrituras ! Não fique esperando receber conhecimento bíblico e sabedoria apenas no domingo ! Viva isso, com a intensidade que seu coração permitir ! Afinal, o Reino de Deus não vem de maneira perceptível, e nem se pode dizer "ei-lo ali" ou "ali está" ! O Reino se manifesta em nós, de maneira viva e intensa, mas tudo isso passa por uma decisão, que deve ser tomada todos os dias.

Observações:
Eu estava com ânimo para detalhar algumas outras idéias, mas creio que hoje basta; escrever muito para um blog torna a leitura cansativa. Entretanto, aos que se interessarem, coloquei algumas observações e detalhamentos sobre os parágrafos acima que podem complementar a leitura.

[1]: Questionamos bastante os católicos e nos tornamos como eles: seguidores de tradições ao pé da letra, sem muitas vezes sabermos de onde vem tudo isso. A meu ver o cristianismo possui algumas variações, mas é basicamente o mesmo em todas as denominações. Ele não conhece, ou mesmo ignora os erros do passado, e nisso os repete anos após ano, era após era. Em relação ao dízimo, ele é necessário para se manter todas as estruturas e salários criados pela igreja ao longo dos séculos. Ora, vejamos o que Deus institui para os Israelitas sobre isso: a) Um dízimo do produto da terra para sustentar os levitas, que não tinham herança em Canaã (Lev. 27:30-33; Num. 18:21-31); b) Um dízimo do produto da terra para patrocinar festas religiosas em Jerusalém. Se o produto pesasse muito para ser levado a Jerusalém, poderia ser convertido em dinheiro (Deu. 14:22-27); c) Um dízimo do produto da terra arrecadado a cada três anos para os levitas locais, órfãos, estrangeiros e viúvas (Deu. 14:28-29; 26:12-13). Ora, quase não se falava em moeda de troca, e segundo meus cálculos, tudo isso dá mais de 20% ao ano...

[2]: A Reforma trouxe benefícios para a igreja mas foi muito mais filosófico do que prático. Muito da liturgia romana foi mantida por Lutero, e pode ser abservado nas liturgias Luteranas até hoje; entretanto, se Lutero, Calvino e outros reformadores pudessem ver o que acontecesse hoje nas igrejas protestantes, provavelmente diriam que nada tem a ver com isso.

[3]: Se não temos uma história suficiente para trás, ou a não conhecemos, vamos tentar definir ela da maneira que bem entendermos daqui pra frente. E o "nosso jeitinho" é o que vai definir o que seremos daqui pra frente.

[4] O pensamento grego influenciou e muito essa maneira de pensar e construir as idéias do clero atual, juntamente com os Escolásticos Protestantes do fim do século VXI, que criaram a comprovação de textos segundo regras da lógica Aristotélica. Obviamente que a divisão da Bíblia em capítulos e versículos facilitou o processo, pois assim vários mini-textos poderiam ser retirados de seu contexto e usados "em defesa da fé".

[5] fatos que me lembram bastante o filme Matrix. Vivemos e somos levados a crer que tudo isso é o correto, e nunca nos questionamos. À medida que as perguntas e dúvidas surgem, preferimos ignorá-las ou pensar nelas como algo que "não vem de Deus", porque negar tudo aquilo que vivemos e aprendemos é por demais absurdo. Mas afinal, o evangelho não foi sempre loucura ?

[6] Amamos demais a Igreja do Senhor Jesus. Mas entendemos que individualmente somos templo do Espírito, e não "deixamos de nos congregar, como costume de alguns" conforme Hebreus 10, porque a congregação é a união daqueles que crêem no evangelho, e isso é muito mais profundo do que presença dominical; é uma união de corações, de mentes e de almas que resolvem se entregar à Deus de maneira incondicional, exercendo o pastoreio e a mutualidade, exercendo todos os valores "uns aos outros" demosntrados no NT. Segundo o disposto em Hebreus 10, talvez muitos dos que vão às igrejas todos os domingos já tenham deixado de se congregar de verdade.

Nenhum comentário: